Fluxo de venezuelanos no Brasil dobra após eleição de Maduro
Crise política e contestação do pleito intensificam a migração e desafiam autoridades brasileiras em Roraima e outros estados.
A cena é quase sempre parecida: famílias inteiras atravessando a fronteira com poucas malas, algumas sacolas improvisadas e muita incerteza no olhar. Desde que Nicolás Maduro foi declarado vencedor em uma eleição amplamente contestada pela oposição e pela comunidade internacional, o movimento migratório de venezuelanos rumo ao Brasil voltou a crescer de forma significativa. Dados recentes apontam que o fluxo praticamente dobrou em comparação aos meses anteriores.
Em Pacaraima, cidade de Roraima que se tornou a principal porta de entrada para os imigrantes, o impacto já é visível. Ruas mais cheias, abrigos lotados e uma movimentação constante que lembra um formigueiro humano em busca de novos caminhos. Para muitos, o Brasil representa não apenas um país vizinho, mas a chance de recomeçar em segurança e com dignidade.
Entre os recém-chegados, há histórias que se repetem. Uma mãe de três filhos conta que deixou para trás casa, móveis e até parte da família, com medo da repressão que se intensificou após os protestos contra o governo. Outro jovem, que estudava engenharia em Caracas, relata que cruzou a fronteira apenas com uma mochila, mas traz consigo o sonho de retomar os estudos e trabalhar para ajudar quem ficou.
As autoridades brasileiras já esperavam um aumento no fluxo, mas a rapidez com que isso aconteceu surpreendeu. O Exército reforçou a Operação Acolhida, iniciativa que organiza o atendimento humanitário, com triagem, vacinação, abrigo e até apoio na interiorização dos migrantes para outros estados do país. Mesmo assim, o desafio é enorme. Prefeituras locais, com orçamentos limitados, pedem mais recursos e apoio federal para lidar com a pressão sobre saúde, educação e assistência social.
Se por um lado há dificuldades, por outro surgem também histórias de solidariedade. Em Boa Vista, grupos de voluntários se organizam para distribuir refeições, roupas e brinquedos para as crianças que chegam visivelmente cansadas da viagem. Em São Paulo, comunidades religiosas mobilizam redes de acolhimento para receber famílias venezuelanas em situação de vulnerabilidade.
A presença de tantos imigrantes também levanta debates. Há quem veja com preocupação o impacto no mercado de trabalho e nos serviços públicos, enquanto outros defendem que os venezuelanos podem contribuir para a economia brasileira, trazendo mão de obra e novas experiências. Especialistas lembram que, historicamente, o Brasil sempre recebeu fluxos migratórios italianos, japoneses, sírios, haitianos e a integração, apesar de desafiadora, costuma gerar resultados positivos a médio e longo prazo.
O pano de fundo, porém, continua sendo a crise política e social na Venezuela. A eleição contestada de Maduro aprofundou a sensação de desconfiança e desesperança. Muitos que ainda resistiam no país agora veem na migração a única saída. Para essas pessoas, atravessar a fronteira não é uma escolha simples: é uma questão de sobrevivência.
Enquanto isso, no Brasil, cada chegada carrega consigo não apenas histórias de dor, mas também de esperança. No rosto de quem cruza a fronteira, há a marca de quem perdeu muito, mas ainda acredita que pode ganhar algo maior: a chance de reconstruir a vida em um lugar que ofereça futuro.
Fonte: mapaempresariall.com.br