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Publicado: 31 de outubro de 2025 às 11:06

Carros Elétricos na Garagem Presidencial: De Símbolo Ecológico a Desafio à Indústria Nacional

Eduardo Sodré analisa como a frota presidencial brasileira evoluiu de veículos nacionais para elétricos importados, priorizando marketing ambiental sobre apoio à produção local.

A escolha de veículos elétricos importados para a frota presidencial brasileira, como o BYD Tan e o Chevrolet Blazer EV, reflete uma tendência global de sustentabilidade, mas levanta questionamentos sobre o apoio à indústria nacional, segundo a coluna de Eduardo Sodré publicada na Folha de S.Paulo em 27/10/2025. Sodré argumenta que, apesar dos benefícios ambientais, a preferência por modelos estrangeiros – mesmo de marcas com fábricas no país – contribui para a "desnacionalização" da garagem oficial, contrastando com épocas em que sedans como o Opala e Omega, produzidos localmente pela GM, eram símbolos de soberania automotiva. O texto destaca o uso desses elétricos por líderes como Lula e Alckmin, fornecidos como estratégia de marketing pelas montadoras, e questiona por que veículos montados em fábricas brasileiras, incluindo as de estrangeiras, não ganham prioridade, em um momento de desafios para o setor automotivo nacional.

Sodré observa: "São raras as vezes que se vê Lula ou seu vice, Geraldo Alckmin, a bordo de um carro brasileiro", apontando para uma desconexão entre a imagem ecológica e o estímulo à produção local.

Evolução da Frota Presidencial: De Importados Históricos a Elétricos Modernos

Desde 1907, quando o presidente Afonso Pena recebeu o primeiro carro oficial – um Charron, Girardot & Voigt importado da França –, a garagem presidencial brasileira priorizou veículos estrangeiros, evoluindo para limousines americanas nos anos 1950 e SUVs de luxo nos 2000. Sob Lula, o BYD Tan elétrico chinês, entregue em janeiro de 2024 com preço acima de R$ 500 mil, simboliza a virada verde, mas é produzido fora do Brasil, apesar de planos para a fábrica de Camaçari (BA). Em setembro de 2024, a Chevrolet forneceu quatro Blazer EV, fabricados nos EUA, continuando a tradição da GM como fornecedora oficial.

  • Histórico:
    • 1907: Charron importado para Afonso Pena.
    • Anos 1970-90: Opala e Omega nacionais pela GM.
    • 2010s: Ford Edge canadense sob Dilma e Temer.
    • 2024: BYD Tan e Blazer EV sob Lula.

Sodré nota: "A desnacionalização da frota gera também momentos curiosos, como o que ocorreu quando a Ford anunciou o encerramento da sua produção de carros no país, em janeiro de 2021."

 

PeríodoVeículo ExemploOrigemSignificado
1907Charron GirardotFrançaInício da motorização oficial
1970-90Opala/OmegaBrasil (GM)Apoio à indústria nacional
2010sFord EdgeCanadáÊnfase em luxo importado
2024BYD TanChinaSímbolo ecológico estrangeiro

Implicações Ambientais e Simbólicas: Marketing vs. Indústria Local

Os elétricos atendem à agenda verde do governo, reduzindo emissões, mas Sodré critica o foco em importados como marketing das montadoras, ignorando produção local. A GM, com fábricas em SP e RS, poderia priorizar veículos brasileiros, impulsionando empregos e cadeia de suprimentos. O fechamento da Ford em 2021, sob Bolsonaro, ilustra o declínio: "Mesmo que as fabricantes que aqui produzem sejam estrangeiras, seria de bom-tom colocar à disposição dos mandatários veículos montados nas dezenas de fábricas instaladas no Brasil."

  • Ambiental: Redução de CO2, mas dependência externa.
  • Simbólico: Frota "verde" contrasta com desindustrialização automotiva.

Sodré conclui: "O perigo maior é a banalização da política — quando figuras públicas, movidas pela visibilidade e pela rebeldia de palco, acreditam que a retórica do 'contra o sistema' as qualifica para governar."

Perspectivas: Equilíbrio entre Sustentabilidade e Nacionalismo

A tendência sugere continuidade, com mais elétricos importados, mas Sodré defende priorizar produção local para revitalizar o setor, que emprega 1,3 milhão. Com incentivos fiscais a EVs (Lei 14.300/2022), o Brasil poderia equilibrar ecologia com economia.