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Publicado: 14 de novembro de 2025 às 11:06

O Brasil está envelhecendo e sua aposentadoria entra em uma nova era

Mudanças silenciosas na demografia colocam o sistema previdenciário em debate e exigem que trabalhadores repensem o futuro financeiro.

O Brasil vive uma revolução demográfica silenciosa: pela primeira vez na história, o país caminha para ter mais idosos que crianças até 2040, segundo projeções do IBGE. A taxa de fecundidade caiu de 5,8 filhos por mulher em 1970 para 1,6 em 2024 – abaixo do nível de reposição (2,1) –, enquanto a expectativa de vida saltou de 62 anos em 1980 para 77 anos hoje. Esse duplo movimento encolhe a base de trabalhadores que sustenta o INSS, ameaçando a sustentabilidade da aposentadoria pública.

“Temos menos gente nascendo, mais gente vivendo por mais tempo e menos trabalhadores pagando a conta. É uma equação que não fecha sem reformas profundas”, alerta Paulo Tafner, economista e especialista em previdência do Ipea.

A bomba-relógio da pirâmide etária

Em 1980, sete trabalhadores ativos sustentavam um aposentado. Hoje, são três. Até 2050, a proporção pode cair para 1,3 para 1, segundo o Ministério da Previdência Social.

 

Indicador198020252050 (proj.)
Taxa de fecundidade4,01,61,4
Expectativa de vida (anos)627782
Razão de dependência idosa*7:13:11,3:1

*Número de trabalhadores por aposentado

Previdência pública sob pressão: o que muda?

A Reforma de 2019 já elevou a idade mínima para 62 anos (mulheres) e 65 (homens) com 15/20 anos de contribuição, mas especialistas afirmam que não basta. Entre as medidas em debate:

  • Aumento gradual da idade mínima para 67/70 anos até 2040
  • Regras mais rígidas para aposentadorias por tempo de contribuição
  • Fim progressivo do déficit atuarial (R$ 320 bilhões em 2024)
  • Incentivos fiscais para previdência complementar (PGBL/VGBL)
  • Contribuição obrigatória para informais via MEI ou apps

“A aposentadoria pública não vai acabar, mas vai se tornar complementar. Quem não planejar, vai depender só do mínimo”, afirma Ana Amélia Camarano, demógrafa do Ipea.

Informalidade: o calcanhar de Aquiles

48% da força de trabalho (cerca de 40 milhões de pessoas) está na informalidade, segundo o IBGE. Destes, apenas 12% contribuem regularmente ao INSS. Resultado: chegam à terceira idade com Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou sem renda.

 

Perfil% da população ativaContribui INSS
Formal (CLT)52%98%
Informal48%12%

O que o trabalhador pode fazer AGORA

A mensagem é clara: planejamento é obrigatório.

  1. Contribuir desde cedo – mesmo como MEI (R$ 75/mês garante aposentadoria)
  2. Investir em previdência privada – PGBL deduz até 12% do IR
  3. Poupar 10-15% da renda em Tesouro RendA+ ou fundos equilibrados
  4. Aproveitar incentivos – empresas com plano empresarial dobram rentabilidade inicial

Um futuro que exige ação coletiva

O governo Lula estuda um novo pacto previdenciário para 2026, com foco em:

  • Fundo soberano para cobrir déficit transitório
  • Educação financeira nas escolas
  • Contribuição automática via Pix para autônomos

“Envelhecer é um privilégio. Mas só será sustentável se dividirmos a responsabilidade entre Estado, empresas e cidadãos”, conclui José Roberto Afonso, economista da FGV.

O Brasil tem 15 anos para ajustar o sistema. Quem agir agora, garante renda digna. Quem esperar, dependerá da sorte.