PF prende dono do Banco Master em Guarulhos por tentativa de fuga; Banco Central decreta liquidação extrajudicial
Daniel Vorcaro foi detido no aeroporto ao tentar embarcar para Malta; operação Compliance Zero investiga emissão de títulos de crédito falsos, com mandados em 5 estados
A Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante, na noite de segunda-feira (17), Daniel Vorcaro, dono e presidente do Banco Master, no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), enquanto tentava fugir do país em um jato particular rumo a Malta. A detenção ocorreu durante a Operação Compliance Zero, deflagrada antecipadamente pela PF, que investigava indícios de emissão de títulos de crédito falsos pelo banco. Horas depois, na manhã de terça (18), o Banco Central (BC) determinou a liquidação extrajudicial da instituição e o bloqueio de bens de controladores e ex-administradores, interrompendo negociações de venda em andamento.
Vorcaro, que havia anunciado no dia 17 a possível venda do banco ao grupo Fictor (com investidores dos Emirados Árabes Unidos, prevendo aporte de R$ 3 bilhões), foi interceptado pela PF ao se preparar para decolar. A ação visava evitar a prisão preventiva, já que a operação original estava marcada para terça. O suspeito, que não resistiu à abordagem, foi levado à superintendência da PF em São Paulo para interrogatório.
“Não há dúvida de que ele pretendia fugir do país logo após o anúncio da venda, demonstrando intenção clara de obstruir as investigações”, afirmou um delegado da PF, em coletiva de imprensa.
Operação Compliance Zero: emissão de títulos falsos e crimes financeiros
A investigação, iniciada em 2024 a pedido do Ministério Público Federal (MPF), apura a fabricação de uma carteira de créditos insustentáveis pelo Banco Master, vendida a outra instituição financeira e substituída sem avaliação adequada. Os crimes em análise incluem gestão fraudulenta, gestão temerária, formação de organização criminosa e outros relacionados a títulos de crédito falsos, com penas que podem ultrapassar 20 anos de prisão.
A operação cumpriu 7 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal. Além de Vorcaro, outros executivos do banco são alvos, com foco em esquemas que expuseram credores e o sistema financeiro a riscos bilionários. O Banco Master, fundado em 1994 e com sede no Rio, enfrentava dificuldades financeiras há meses, com negociações de venda que agora estão automaticamente suspensas pela liquidação.
O BC, em comunicado oficial, justificou a intervenção:
“A medida visa preservar a estabilidade do sistema financeiro e proteger os depositantes, com o bloqueio de bens dos responsáveis para ressarcimento de prejuízos.”
Impactos: liquidação interrompe venda e afeta credores
A liquidação extrajudicial, prevista na Lei Complementar 40/2001, permite ao BC gerir o banco em regime especial, vendendo ativos para pagar credores prioritários (como poupadores e fundos garantidores). O grupo Fictor, que planejava injetar R$ 3 bilhões (sujeito a aprovação do BC e do Cade), vê o negócio paralisado. Clientes e investidores do Banco Master, que opera com foco em crédito consignado e rural, enfrentam incertezas sobre saldos e empréstimos.
| Entidade envolvida | Ação tomada | Consequências |
|---|---|---|
| Polícia Federal | Prisão de Vorcaro e buscas em 5 estados | Avanço nas investigações criminais |
| Banco Central | Liquidação extrajudicial e bloqueio de bens | Suspensão de negociações de venda |
| Ministério Público Federal | Pedido inicial de investigação (2024) | Possível ação penal por fraudes financeiras |
| Grupo Fictor | Negociação de compra (anunciada 17/11) | Processo interrompido; aporte de R$ 3 bi em risco |
Contexto do Banco Master: de crescimento a crise
Fundado em 1994 no Rio de Janeiro, o Banco Master cresceu com foco em crédito consignado para servidores públicos e empréstimos rurais, faturando R$ 1,2 bilhão em 2023. No entanto, auditorias recentes revelaram irregularidades em carteiras de crédito, com títulos inflados para maquiar balanços. A tentativa de venda ao Fictor, com capital árabe, era vista como salvação, mas a PF agiu preventivamente após monitoramento de viagens.
O caso reforça preocupações com a solidez do sistema financeiro brasileiro, após escândalos como o do Banco Neon em 2023. O BC garante que o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) cobre até R$ 250 mil por CPF/CNPJ, protegendo correntistas. Vorcaro, solteiro e sem filhos, permanece detido; sua defesa não se pronunciou até o momento.
Investigações prosseguem, com possível extensão a outros bancos. Para clientes, o BC orienta contato imediato para esclarecimentos.
