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Publicado: 22 de novembro de 2025 às 08:48

Enem 2025: Estudantes protestam na porta do Inep e pedem anulação após suspeita de vazamento de questões

Manifestantes em Brasília cobram transparência e igualdade no exame; MEC e PF investigam live de estudante que antecipou itens idênticos, mas ministro Camilo Santana garante: "Não será cancelado"

Cerca de 50 estudantes protestaram na tarde de sexta-feira (21) em frente à sede do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em Brasília, exigindo a anulação do Enem 2025 devido a suspeitas de vazamento de questões. O ato, impulsionado pela hashtag #AnulaEnem, que viralizou nas redes sociais com milhares de compartilhamentos, reuniu candidatos frustrados que alegam perda de isonomia no processo seletivo. A Polícia Federal (PF) investiga a divulgação indevida de itens, mas o Ministério da Educação (MEC) optou por anular apenas três questões específicas, garantindo que o exame prosseguirá sem interrupções.

Os manifestantes, muitos com cartazes como "Anule o Enem: Justiça para Todos" e "Estudei Anos para Isso?", bloquearam a entrada do Inep por cerca de uma hora, sem confrontos com a segurança. A PF e o MEC confirmaram a abertura de inquérito, mas o ministro Camilo Santana pediu calma aos candidatos, afirmando que o episódio é "um caso de polícia" e que o exame não será cancelado.

“Só o estudante sabe o peso de estudar 6, 8, 12 horas por dia. Eu comecei a tomar medicamentos psiquiátricos para ansiedade”, desabafou Natália Souza, 22 anos, uma das manifestantes, que há quatro anos se prepara para vestibulares.

O que motivou o protesto: live com questões "idênticas" e perda de igualdade

A indignação explodiu após uma live do estudante de medicina Edcley de Souza Teixeira, realizada cinco dias antes da prova de Ciências da Natureza (aplicada em 16 de novembro). Durante a transmissão, Edcley apresentou PDFs com questões que, segundo ele, poderiam cair no Enem, e usuários identificaram itens quase idênticos aos da prova real – como uma questão de Biologia com os mesmos dados e gráficos. Edcley, premiado pelo MEC com R$ 5 mil e o título de "Talento Universitário" pela Capes em 2024, alegou usar materiais de "pré-testes" da Capes, que calibram dificuldades para exames futuros, mas críticos apontam acesso privilegiado a conteúdo sigiloso.

Os estudantes argumentam que o vazamento compromete a lisura do exame, beneficiando quem teve acesso antecipado e frustrando milhões de candidatos que dedicaram meses de estudo. Lucas Monteiro, 21 anos, outro manifestante, abandonou esportes e vida social para se preparar:

“Eu tirei uma boa nota, o problema é que tem pessoas que tiraram melhores ainda por ter acesso privilegiado.”

A hashtag #AnulaEnem acumulou mais de 100 mil menções no X em 24 horas, com relatos de ansiedade e desmotivação entre vestibulandos.

Resposta oficial: anulação de três questões e investigação em curso

O MEC acionou a PF imediatamente após as denúncias, que abriu inquérito para apurar a possível divulgação indevida. Em decisão conjunta com o Inep, três questões foram anuladas – uma de cada área de Ciências da Natureza (Biologia, Química e Física) –, identificadas como semelhantes às da live. Há indícios de que itens de "pré-testes" do Inep foram usados em cursos preparatórios online, mas sem comprovação de vazamento generalizado.

O ministro Camilo Santana se manifestou nas redes sociais na sexta (21), tranquilizando os candidatos:

“Quero tranquilizar cada um de vocês: o Enem não será cancelado. Estamos atuando para assegurar a lisura do exame e punir os responsáveis.”

A PF realiza perícia nos materiais da live e intima Edcley para depoimento. O Inep reforça que o exame segue seguro, com 3,5 milhões de inscritos e notas oficiais em janeiro de 2026.

 

Medida adotadaDetalhesImpacto
Anulação de questõesTrês itens de Ciências da Natureza (uma por disciplina)Recalculadas notas sem afetar o exame global
Inquérito da PFInvestigação de divulgação indevidaDepoimentos e perícia em materiais
Garantia do MECExame prossegue sem cancelamentoFoco em punição aos responsáveis

Contexto do Enem 2025: histórico de polêmicas e confiança abalada

O Enem 2025, primeiro com provas em dois domingos (9 e 16 de novembro), já enfrentava críticas por temas como envelhecimento populacional na redação. Vazamentos passados, como o de 2009 (que levou a anulação), alimentam desconfiança. Com 3,5 milhões de participantes, o exame é porta de entrada para universidades e programas como Sisu e Prouni, e qualquer irregularidade pode afetar milhares de trajetórias.

Especialistas em educação, como Claudia Costin (FGV), defendem transparência: "Anulações pontuais são corretas, mas o MEC precisa investir em fiscalização digital para evitar lives e fóruns." O protesto, pacífico e sem incidentes, reflete o descontentamento de uma geração que vê o Enem como "jogo de azar" em vez de mérito.

Para os candidatos, o foco agora é aguardar o gabarito oficial (previsto para 28 de novembro) e resultados em janeiro. O MEC promete relatório final sobre o inquérito até dezembro.