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Publicado: 27 de novembro de 2025 às 08:33

Força-tarefa mira 190 suspeitos do Grupo Refit, maior devedor de impostos de SP: prejuízo de R$ 26 bilhões em fraudes de combustíveis

Operação Poço de Lobato mobiliza 621 agentes em 5 estados e DF; esquema usava offshores nos EUA, fundos falsos e fintechs para sonegar ICMS e lavar dinheiro, com bloqueio de R$ 8,9 bilhões em bens

Uma megaoperação deflagrada nesta quarta-feira (27) mira 190 suspeitos e empresas ligadas ao Grupo Refit, apontado como o maior devedor de ICMS em São Paulo e um dos principais do país. A Operação Poço de Lobato, coordenada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (Cira-SP), investiga fraudes bilionárias no setor de combustíveis, com prejuízo estimado em R$ 26 bilhões aos cofres públicos. A ação cumpriu mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e no Distrito Federal, mobilizando 621 agentes de órgãos como Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Receita Federal, secretarias de Fazenda estadual e municipal, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Procuradoria-Geral do Estado de SP e polícias Civil e Militar.

O grupo, comandado pelo empresário Ricardo Magro e dono da antiga refinaria de Manguinhos (RJ), usava uma rede de offshores nos EUA, fundos de investimento falsos, holdings e fintechs para sonegar tributos e lavar dinheiro, reinvestindo lucros ilícitos em negócios e imóveis. Não houve prisões preventivas, mas a operação resultou em bloqueio judicial de R$ 8,9 bilhões em bens e indisponibilidade de R$ 1,2 bilhão pela PGFN. Os crimes apurados incluem organização criminosa, crimes contra a ordem econômica e tributária, e lavagem de dinheiro.

“O esquema envolvia infiltração profunda no setor de combustíveis, com estruturas internacionais para blindar patrimônio e sonegar bilhões em tributos, prejudicando a economia e os serviços públicos”, destacou o MP-SP em nota oficial.

Esquema revelado: offshores, fundos falsos e importações milionárias

O golpe operava com criação de offshores em Delaware (EUA), onde o anonimato e a ausência de tributação facilitavam a lavagem. Mais de 15 entidades estrangeiras remetiam recursos ao Brasil via contratos de mútuo conversíveis em ações, totalizando cerca de R$ 1 bilhão. Esses valores eram reinvestidos em participações e imóveis, dando aparência de legalidade.

  • Fundos de investimento: 17 fundos ligados ao grupo somam R$ 8 bilhões em patrimônio líquido, majoritariamente fechados com um único cotista (outro fundo). Administradoras omitiram dados à Receita Federal.
  • Importações fraudulentas: Aquisição de uma exportadora em Houston (Texas) permitiu importações de combustíveis acima de R$ 12,5 bilhões entre 2020 e 2025.
  • Lavagem via fintechs: Holdings, meios de pagamento e colaboradores ocultavam lucros de sonegação de ICMS estadual e federal.

O Refit é o segundo maior devedor de ICMS no Rio de Janeiro e figura entre os maiores da União, com dezenas de empresas no setor de combustíveis.

 

Elemento do esquemaDetalhesPrejuízo estimado
Offshores nos EUA15+ entidades em Delaware para anonimato e sem tributação localR$ 1,2 bi em remessas
Fundos de investimento17 fundos com R$ 8 bi em patrimônio falso (maioria com único cotista)R$ 8 bi em ativos ocultos
Importações de combustíveisR$ 12,5 bi via exportadora em Houston (TX, 2020-2025)Parte dos R$ 26 bi totais
Lavagem via fintechsHoldings e meios de pagamento para ocultar ilícitosNão quantificado

Impacto da operação: bloqueios e recuperação de ativos

A Cira-SP bloqueou R$ 8,9 bilhões de pessoas e empresas envolvidas, enquanto a PGFN obteve indisponibilidade judicial de R$ 1,2 bilhão da organização criminosa. A operação, similar à Carbono Oculto (que expôs infiltração do PCC no setor de combustíveis), não resultou em prisões, mas monitora os alvos para evitar dissipação de bens. O MP-SP e a Receita Federal identificaram colaboração de administradoras de fundos, que falharam em reportar informações fiscais.

O esquema prejudicou serviços públicos como saúde e educação, com sonegação de ICMS afetando arrecadação estadual. Para o setor de combustíveis, o caso reforça a necessidade de compliance rigoroso, após escândalos recentes como o da Carbono Oculto.

A operação pode se estender a mais estados, com foco na recuperação de ativos. Atualizações virão com os resultados das buscas.