Desconfiança Fiscal Pressiona Juros Reais do Brasil a Segundo Lugar Mundial, Atrás Apenas da Turquia
Copom mantém Selic em 15% apesar de inflação em queda; déficit público de 8% do PIB e dívida em alta alimentam risco, com especialistas alertando para desancoragem de expectativas
O Banco Central do Brasil (BC) manteve a taxa Selic em 15% ao final da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (10), consolidando os juros reais do país na segunda posição global, superados apenas pela Turquia. Apesar da inflação em trajetória descendente, a decisão reflete uma profunda desconfiança fiscal, impulsionada por um déficit nominal persistente próximo a 8% do PIB em 2024 e 2025, além do aumento da dívida bruta do Governo Geral (DBGG) para 76,8% do PIB. Economistas atribuem a rigidez dos juros a um ambiente de demanda interna aquecida e expectativas inflacionárias não ancoradas, conforme o Boletim Focus, que projeta desvios acima da meta para 2025 e 2026. A medida, que eleva o custo do crédito e freia investimentos, é vista como freio necessário para evitar repasses de custos aos preços, mas cobra um preço alto da economia real em um ano de crescimento modesto.
O cenário contrasta com a Turquia, onde juros altos decorrem de intervencionismo estatal e volatilidade cambial, enquanto no Brasil a independência do BC permite uma resposta técnica, mas limitada por fragilidades fiscais crônicas. O economista Luis Carlos Burbano Zambrano alerta que, sem reformas, o prêmio de risco exigido por investidores deve manter os juros elevados, pressionando o câmbio e reacelerando a inflação.
Motivos para a Manutenção da Selic em 15%
A decisão do Copom ocorre em um contexto de inflação controlada – com o IPCA projetado em 4,5% para 2025, dentro da meta de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual –, mas ancorada em preocupações com o risco fiscal. O déficit nominal, que inclui juros da dívida, reflete gastos públicos superiores à arrecadação, sinalizando insustentabilidade. A DBGG saltou de 75,7% do PIB no fim de 2024 para 76,8% nos dados mais recentes, elevando o custo de rolagem da dívida e as expectativas de inflação futura.
Burbano Zambrano, em análise à Revista Oeste, explica: “Nos modelos do BC, a inflação futura depende das expectativas. Como o Boletim Focus mantém projeções acima da meta para 2025 e 2026, o Copom vê a ancoragem ainda frágil. Reduzir juros agora poderia sinalizar afrouxamento prematuro, desancorar crenças e pressionar o câmbio, reacelerando preços sensíveis como combustíveis e bens comercializáveis”. Ele destaca que exceções ao arcabouço fiscal, aprovadas pelo governo, ampliam o prêmio de risco, forçando o BC a atuar como contrapeso.
Políticas Governamentais e Pressão de Demanda
As políticas do governo Lula contribuem para o quadro: transferências de renda, como o Bolsa Família ampliado, elevam a renda disponível e mantêm a demanda aquecida. Com desemprego em níveis historicamente baixos (cerca de 7,5% em novembro de 2025), massa salarial crescendo acima da produtividade e consumo familiar em expansão, o BC interpreta o ambiente como pressão inflacionária latente. “Para o BC, isso caracteriza uma demanda que precisa ser moderada para evitar repasses de custos aos preços”, reforça Burbano.
O arcabouço fiscal, implementado em 2023, enfrenta desafios com novas exceções para investimentos públicos, o que erode a credibilidade e mantém o risco país em 150 pontos (segundo o CDS de 5 anos). Investidores estrangeiros, que detêm 20% da dívida brasileira, demandam retornos maiores, perpetuando o ciclo vicioso.
Opiniões de Especialistas
Luis Carlos Burbano Zambrano, formado pela Universidad del Valle (Colômbia) e consultor em macroeconomia, é categórico: a trajetória da dívida e as exceções fiscais aumentam o prêmio de risco, exigindo juros mais altos para atrair capital. Ele compara o Brasil à Turquia, mas elogia a autonomia do BC como fator de estabilidade relativa. Outros analistas, como os do Itaú, preveem Selic em 14,5% só no fim de 2026, condicionada a superávit primário de 1% do PIB – meta não cumprida em 2025.
Impactos Econômicos e Perspectivas
Os juros em 15% encarecem o crédito para empresas e famílias, limitando investimentos (projetados em 2,5% do PIB para 2025) e consumo de bens duráveis. O câmbio opera em R$ 5,60/US$, pressionado pelo risco fiscal, o que eleva importados e alimenta a inflação. Positivamente, a medida contém pressões imediatas, mas especialistas como Burbano cobram reformas: corte de gastos, privatizações e consolidação fiscal para ancorar expectativas e permitir cortes na Selic.
No Boletim Focus de dezembro, o mercado estima PIB de 2,2% para 2025, abaixo da meta governista de 3%, com inflação em 4,7%. Sem ajustes fiscais, o BC pode elevar a Selic para 15,5% em março de 2026, segundo projeções internas.
| Indicador | Valor Atual (Dez/2025) | Projeção 2026 | Impacto dos Juros Altos |
|---|---|---|---|
| Selic | 15% | 14,5% (fim do ano) | Freia investimentos; eleva custo da dívida |
| Déficit Nominal | ~8% do PIB | 7,5% (meta) | Aumenta desconfiança; pressiona câmbio |
| Dívida Bruta (DBGG) | 76,8% do PIB | 78% | Prêmio de risco em alta; atrai menos capital |
| Inflação (IPCA) | 4,5% (projetado) | 3,8% | Controlada, mas expectativas desancoradas |
| Risco País (CDS) | 150 pontos | 130 pontos | Juros reais em 2º lugar global |
Implicações para a Economia Brasileira
A rigidez fiscal trava o ciclo virtuoso de crescimento, com o governo priorizando gastos sociais sobre consolidação. Para Burbano, o BC age corretamente ao priorizar credibilidade, mas o Legislativo precisa aprovar reformas para romper o impasse. Em 2026, com eleições municipais, a pauta fiscal pode polarizar, mas analistas preveem alívio só com superávit primário efetivo.
O Copom sinaliza vigilância contínua, com próxima reunião em janeiro. Atualizações virão com o Boletim Focus semanal e dados fiscais do Tesouro.
