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Publicado: 13 de dezembro de 2025 às 13:09

Varejo Brasileiro Registra Queda de 1,6% em Novembro Apesar da Black Friday

Indicador da Stone aponta retração mensal e anual no faturamento do comércio; endividamento familiar e crédito caro limitam consumo, com força do emprego atingindo teto

Nem a Black Friday, principal data promocional do calendário varejista, conseguiu impulsionar as vendas em novembro. De acordo com o Índice do Varejo Stone (IVS), o faturamento do comércio brasileiro recuou 1,6% na comparação com outubro e 3,7% em relação a novembro de 2024. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (11) pela empresa de pagamentos eletrônicos Stone, revelam uma desaceleração persistente ao longo do ano, mesmo com resposta pontual em setores como móveis e eletrodomésticos. O economista Rômullo Carvalho, responsável pelo estudo, explica que a "força do mercado de trabalho e da massa de renda encontrou um teto", com freios macroeconômicos como alto endividamento das famílias e custo elevado do crédito pesando mais na decisão de compra.

O IVS acompanha mensalmente a movimentação do varejo com base em transações reais processadas pela Stone, oferecendo visão antecipada sobre o comportamento do consumo. A retração anual de 3,7% indica nível de atividade inferior ao da Black November de 2024, confirmando que a principal data do varejo não reverteu a tendência de enfraquecimento observada em 2025.

Desempenho por Setores em Novembro

No recorte mensal (comparação com outubro), três dos oito segmentos analisados registraram alta, enquanto cinco apresentaram retração:

  • Altas:
    • Móveis e eletrodomésticos: +1% (maior avanço, impulsionado por promoções da Black Friday)
    • Tecidos, vestuário e calçados: +0,3%
    • Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: +0,2%
  • Quedas:
    • Material de construção: -3,2%
    • Combustíveis e lubrificantes + livros, jornais, revistas e papelaria: -2,7%
    • Artigos farmacêuticos: -1,8%
    • Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -0,9%

Na comparação anual (novembro 2025 vs. novembro 2024), todos os setores registraram retração, com destaque negativo para:

  • Combustíveis e lubrificantes: -6,7%
  • Móveis e eletrodomésticos: -5,1%
  • Hipermercados e supermercados: -4%
  • Material de construção: -2,8%

Rômullo Carvalho, economista e pesquisador da Stone, destacou: "Mesmo em um mês marcado pela Black Friday, o varejo não conseguiu sustentar o crescimento. A leitura de novembro aponta que a força do mercado de trabalho encontrou um teto. Embora o emprego siga aquecido, sustentando o consumo básico, os freios macroeconômicos pesaram mais".

Motivos da Desaceleração

O estudo atribui a queda a fatores estruturais:

  • Endividamento recorde: Famílias priorizam pagamento de dívidas em detrimento de compras não essenciais.
  • Custo do crédito elevado: Juros altos (Selic em patamares restritivos) encarecem financiamentos e parcelamentos.
  • Massa de renda no limite: Apesar do emprego forte, o crescimento salarial não acompanha a inflação acumulada e os compromissos financeiros.
  • Diluição da Black Friday: Promoções antecipadas ao longo de novembro espalharam as vendas, reduzindo o pico tradicional.

O cenário reforça projeções de crescimento modesto para o varejo em 2025, com o setor dependendo de alívio monetário e controle fiscal para recuperação em 2026.

 

SegmentoVariação Mensal (nov/out)Variação Anual (nov 2025/2024)
Móveis e eletrodomésticos+1%-5,1%
Tecidos, vestuário e calçados+0,3%-0,6%
Hipermercados e supermercados+0,2%-4%
Material de construção-3,2%-2,8%
Combustíveis e lubrificantes + livros etc.-2,7%-6,7%
Artigos farmacêuticos-1,8%-1,5%
Outros artigos pessoais/domésticos-0,9%-2%
Varejo Total-1,6%-3,7%

Perspectivas para o Final do Ano e 2026

Apesar da retração, o 13º salário e o Natal podem oferecer impulso pontual em dezembro. No entanto, analistas alertam que, sem corte na Selic e redução do endividamento, o varejo deve fechar 2025 com crescimento abaixo do esperado. O IVS serve como termômetro antecipado, influenciando decisões do Banco Central e políticas fiscais.

Os números confirmam um ano desafiador para o comércio, marcado por cautela do consumidor e restrições creditícias. Atualizações virão com indicadores oficiais do IBGE e próximos relatórios da Stone.