Governo Lança Plano Safra 2025/2026 com Crédito Mais Caro e Recebe Críticas do Setor Agropecuário
Aumento de Juros e Restrições Orçamentárias Geram Insatisfação entre Produtores
O Governo Federal lançou, em 1º de julho de 2025, o Plano Safra 2025/2026, destinando R$ 516,2 bilhões à agricultura empresarial e R$ 89,2 bilhões à agricultura familiar, totalizando R$ 605,4 bilhões. Apesar do volume recorde, o plano enfrenta críticas do setor agropecuário devido ao aumento das taxas de juros e à redução do valor real dos recursos, impactados pela inflação e pela alta da Selic, que atingiu 15% ao ano. O anúncio, realizado no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também foi marcado por tensões com produtores, que cobram maior apoio ao seguro rural e medidas para mitigar riscos climáticos.
Detalhes do Plano Safra 2025/2026
O plano empresarial, voltado a médios e grandes produtores, oferece R$ 414,7 bilhões para custeio e comercialização e R$ 101,5 bilhões para investimentos. Já o Plano Safra da Agricultura Familiar, lançado em 30 de junho, disponibiliza R$ 89,2 bilhões, mas apenas R$ 56,8 bilhões foram liberados até maio de 2025, evidenciando um descompasso entre o anunciado e o executado. Entre as novidades, destacam-se:
- Sustentabilidade: Financiamento de ações como combate a incêndios, aquisição de caminhões-pipa e mudas nativas para recomposição de áreas de preservação.
- Armazenagem: Ampliação do limite do Programa de Construção de Armazéns (PCA) de 6 mil para 12 mil toneladas por projeto.
- Pronamp: Aumento do limite de renda para enquadramento no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural, de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões anuais.
- Zoneamento Agrícola: Exigência do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para todos os financiamentos de custeio, visando maior segurança na produção.
- Renegociação de Dívidas: Medidas para facilitar a reestruturação de passivos de safras anteriores.
Críticas do Setor Agropecuário
O setor agropecuário recebeu o plano com cautela, apontando que o aumento nominal de 1,5% (de R$ 508,59 bilhões em 2024/2025 para R$ 516,2 bilhões) não compensa a inflação acumulada, estimada em mais de 5%, resultando em uma perda real de recursos. Além disso, as taxas de juros subiram até 2 pontos percentuais, com o Pronamp, por exemplo, passando de 8% para 10% ao ano, reflexo da Selic em 15%.
A principal crítica recai sobre o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), essencial para proteger produtores contra perdas climáticas. O setor solicita R$ 4 bilhões, mas o orçamento atual é de apenas R$ 1 bilhão, com cortes de R$ 354,6 milhões e contingenciamento de R$ 90,5 milhões em 2024, gerando insegurança. Representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) destacam que, sem um seguro rural robusto, os produtores ficam expostos a riscos como secas e enchentes, comuns em 2025.
Outro ponto de atrito é a redução da participação das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que caiu de 43% na safra 2023/2024 para 29% na atual, devido à revogação da isenção de Imposto de Renda sobre esses títulos. Isso encarece o crédito privado, afetando especialmente pequenos e médios produtores.
Contexto e Desafios
O aumento dos juros e a restrição orçamentária refletem o cenário fiscal apertado. Em fevereiro de 2025, o governo suspendeu temporariamente as linhas de crédito subsidiadas do Plano Safra 2024/2025, alegando a alta da Selic e a falta de aprovação do orçamento de 2025. Uma Medida Provisória liberou R$ 4,1 bilhões em crédito extraordinário para retomar as operações, mas o setor teme que o problema se repita.
Produtores também criticam a burocracia e a demora na liberação de recursos, com apenas 75% dos valores anunciados no Pronaf sendo efetivamente desembolsados na safra passada. A exigência do Zarc, embora positiva para a sustentabilidade, pode limitar o acesso ao crédito em regiões sem zoneamento disponível.
Reações e Perspectivas
Lula defendeu o plano, destacando seu papel na segurança alimentar e no crescimento econômico, com projeções de 6% de expansão do setor agropecuário em 2025. No entanto, lideranças como Isan Rezende, do Instituto do Agronegócio, afirmam que o aumento dos juros e a queda do volume real de recursos são “um retrocesso disfarçado de avanço”. Entidades como o Sistema FAEP cobram maior previsibilidade e investimento em armazenagem e logística para escoamento da safra.