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Publicado: 31 de outubro de 2024 às 10:16

Desenvolvimento Sustentável: Como diamantes, café e vinhos estão mudando o interior da Bahia

A Revolução econômica e cultural das novas indústrias Baianas

Antes de ver o renascimento da produção agrícola e do turismo, Mucugê, uma cidade de pouco mais de 12 mil habitantes localizada na Chapada Diamantina, passou por um extenso período de estagnação. Desde o declínio da exploração de diamantes na década de 1870, a cidade enfrentou vários ciclos econômicos que não foram suficientes para sustentar sua população. Sem perspectivas de desenvolvimento, muitos moradores migraram em busca de melhores oportunidades em outras regiões. Atualmente, a situação é diferente. O charme de viver em uma pequena cidade, com um clima agradável e qualidade de vida, atrai novos residentes. Entre os censos de 2010 e 2022, a população local cresceu de cerca de 10 mil para 12 mil habitantes, representando um aumento de 15,1%.

Os mesmos dados mostram que, entre os 10 municípios baianos que mais cresceram populacionalmente nesse período, apenas um, Lauro de Freitas, está localizado na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Os outros nove, incluindo Mucugê, estão fora desse grande eixo urbano, mas compartilham a promessa de oportunidades econômicas e a capacidade de oferecer uma qualidade de vida atrativa para aqueles dispostos a deixar os grandes centros urbanos.

Quase um século separa as histórias de um garimpeiro e um produtor rural, ambos deixando suas marcas na região de Mucugê. No entanto, enquanto o primeiro impulsionou um influxo populacional significativo, o segundo trouxe consigo um modelo de produção sustentável. Quando o garimpeiro descobriu diamantes, a cidade viu sua população aumentar em pouco mais de 30 mil pessoas em apenas quatro anos, de acordo com registros históricos. Contudo, cerca de 30 anos depois, a extração de diamantes começou a declinar, levando à frustração e ao êxodo da população.

Com a chegada de um novo investidor à região em 1985, a realidade começou a mudar. A população urbana de Mucugê na época contava com apenas cerca de 300 habitantes, e o foco passou a ser no desenvolvimento da terra para a produção, ao invés da extração de recursos. Surgiu assim um dos principais grupos empresariais da cidade, que se dedicou a agregar valor à produção agrícola, otimizar o uso da terra e estruturar cadeias produtivas no setor agropecuário.

As atividades começaram com a produção de batatas e outros legumes, evoluindo para a fruticultura e, mais tarde, para o renomado café da Chapada. Com um forte investimento em branding, nasceu a marca Latitude 13, seguida pelo desenvolvimento de vinhos a partir da produção de uvas, que também resultou na criação da marca Uvva, destacando a conexão com a terra.

O crescimento do enoturismo levou à expansão de restaurantes e pousadas, incentivando novos investimentos para atender a um público crescente. Essa dinâmica promoveu uma interação valiosa entre empresas de diversos portes, criando um ecossistema diversificado de serviços. Segundo observações, a Bahia possui um potencial significativo nesse setor, com exemplos visíveis em outras regiões, como o Oeste e o Sul do estado, onde a produção de cacau também está em ascensão.

Atualmente, o grupo empresarial emprega cerca de 1,2 mil trabalhadores na região. Os planos futuros envolvem continuar o desenvolvimento da Chapada Diamantina, visando gerar riqueza tanto para a comunidade local quanto para o ambiente ao redor.

“A agricultura é crucial para a criação de empregos, mas o turismo também desempenha um papel vital, ampliando as oportunidades e melhorando os serviços na cidade. Nosso objetivo é contribuir de forma abrangente para o desenvolvimento local”, enfatiza.

Vocação local

Em Jacobina, a cerca de 350 km de Mucugê, a mineração é a principal força econômica em um município de 82 mil habitantes, responsável por 0,53% do PIB da Bahia. A gestão da atividade mineral é vista como um motor de desenvolvimento tanto regional quanto local. Somente em folha de pagamento e compras de produtos e serviços, a mineradora injeta cerca de R$ 70 milhões anualmente na economia local.

A consciência sobre a importância de fortalecer fornecedores locais é uma prioridade. Hoje, mais de 500 empresas baianas estão integradas à rede da mineradora, das quais 400 são de Jacobina ou regiões próximas. Preparar as empresas locais para atender a mineradora também as capacita a fornecer para outros grandes fornecedores em todo o país.

Atualmente, 94% da força de trabalho da empresa é composta por trabalhadores de Jacobina, e esse número chega a 97% se considerarmos apenas os baianos. Isso representa uma injeção significativa na economia local, com R$ 300 milhões por ano em salários. Quando a mineração é bem-sucedida, ela impulsiona outros projetos; quando enfrenta dificuldades, muitos buscam novas oportunidades fora da região.