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Publicado: 01 de outubro de 2024 às 09:21

Qual o impacto do conflito no oriente médio sobre a economia Brasileira?

Escalada nas hostilidades poderia levar barril de petróleo a custar US$ 100, pressionando a inflação e os juros nos EUA e obrigando o Banco Central a seguir elevando a Selic

Se um roteirista tentasse adaptar a complexa situação do Oriente Médio para as telas, o resultado seria uma série muito mais extensa que "Game of Thrones", com dez vezes mais personagens e centenas de temporadas.

O Conflito Atual

O capítulo mais recente envolve o agravamento do conflito entre Israel e Irã. Tudo começou em outubro de 2023, quando o Hamas, uma organização extremista muçulmana sunita que controla a Faixa de Gaza, lançou ataques a alvos civis no sul de Israel. A resposta do governo israelense foi severa, resultando em 41 mil mortes em ambos os lados.

Em abril de 2024, o conflito se intensificou com a invasão do espaço aéreo da Síria pela força aérea israelense, que bombardeou a embaixada iraniana em Damasco, resultando na morte de sete altos oficiais da Força Quds, o braço militar e de inteligência do Irã.

Essa ação provocou uma resposta iraniana. Desde então, o Hezbollah, apoiado pelo Irã, intensificou ataques a Israel a partir do Líbano. Em 28 e 29 de setembro, mísseis israelenses eliminaram líderes do Hezbollah e do Hamas em Beirute, e, na madrugada de 1º de outubro, tropas israelenses cruzaram a fronteira libanesa.

Dinâmica Regional

O que motiva essa complexidade? O Oriente Médio é uma região repleta de nuances. Embora à primeira vista o conflito pareça ser uma disputa entre Israel e países árabes, essa visão simplifica a realidade. Os "países árabes" não formam um conjunto homogêneo; existem divergências religiosas, políticas e culturais significativas.

Os principais países da região incluem Egito, Arábia Saudita e Irã. O Egito e a Arábia Saudita são sunitas, enquanto o Irã é xiita. Este último, apesar de ser o terceiro maior produtor de petróleo da região, enfrenta uma economia debilitada por sanções americanas que duram quase duas décadas.

A Influência do Irã

A combinação de religião, idioma e desafios econômicos posicionou o Irã como um ator problemático na região. Governado por uma teocracia sob a liderança do aiatolá Ali Khamenei, o país lida com um sistema eleitoral não representativo e uma economia em crise. Embora tenha um alto nível de apoio popular após a revolução de 1979, esse apoio está diminuindo.

Arena Geopolítica

Adicionalmente, a região serve como um campo de disputa para potências maiores. A Síria, sob Bashar Al-Assad, é uma ditadura apoiada pelo Irã e pela Rússia, enquanto Egito, Arábia Saudita e Israel contam com o respaldo americano.

O Papel do Petróleo

Os desafios enfrentados pelo Irã e seus vizinhos seriam irrelevantes se não fosse pelo petróleo. O Irã pode bloquear o Estreito de Ormuz, uma passagem crucial para o comércio internacional de petróleo. Aproximadamente 15 milhões de barris passam por essa faixa de 10 quilômetros de largura todos os dias.

O governo iraniano está ciente dessa importância estratégica e já dificultou a passagem de navios petroleiros em momentos de interesse. Um aumento nas hostilidades pode levar ao fechamento do estreito, impactando o comércio global.

Atualmente, o mercado de petróleo permanece estável, com o Brent subindo 1,56%, para US$ 73,10 por barril, e o West Texas Intermediate (WTI) subindo 1,09%, para US$ 68,19 por barril.

Pressão no Mercado de Petróleo

O mercado de petróleo também está sob pressão devido ao aumento da produção nos EUA, Canadá e Guiana, além da demanda estagnada da China. A OPEP+ adiou cortes na produção, mas uma escalada rápida do conflito poderia levar os preços a US$ 100 por barril.

Dados recentes mostram que a atividade manufatureira na China encolheu pelo quinto mês consecutivo, enquanto a perspectiva de recuperação da produção de petróleo na Líbia também afeta o mercado.

Impacto Econômico

Qual seria o impacto de um aumento repentino nos preços do petróleo na economia global, incluindo a do Brasil? Um aumento temporário teria efeitos limitados, mas um período prolongado de alta pressionaria a inflação em economias como a dos EUA e da Europa.

Como o petróleo é essencial não apenas para o transporte, mas também para a geração de energia, preços elevados poderiam elevar custos em quase todos os setores da economia. Isso tornaria mais difícil para o Federal Reserve (Fed) reduzir juros, mantendo o dólar forte, o que poderia aumentar a inflação no Brasil e levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar ainda mais as taxas de juros.