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Publicado: 03 de novembro de 2024 às 11:17

BNDES foca na indústria e sinaliza Ultrapassagem sobre o agro

Indústria retoma espaço no BNDES e ensaia reequilibrar forças com o agro

Após o lançamento de um novo plano de crédito e subsídios voltado para a indústria, o volume de empréstimos aprovados pelo banco de desenvolvimento nacional para o setor atingiu seu maior patamar em oito anos. Os dados mostram que, de janeiro a setembro deste ano, os valores liberados superaram aqueles destinados ao agronegócio, uma situação que não se observava desde 2016.

Esse aumento ocorre em um contexto de recuperação na atividade industrial e de crescente demanda por financiamento, impulsionada pela criação das linhas do plano denominado Nova Indústria Brasil, que foi introduzido em janeiro. A procura por crédito dobrou em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Embora representantes do setor privado celebrem os avanços, o cenário para o próximo ano é visto com certa cautela. Entre as preocupações estão a falta de competitividade da indústria e a intensa concorrência com produtos importados, especialmente da China, além do recente ciclo de aumento da taxa básica de juros.

A diretoria do banco de desenvolvimento nacional observa que está iniciando um processo de reabertura ao apoio à indústria, após anos em que esse setor foi negligenciado. A análise aponta que, no acumulado dos primeiros nove meses do ano, a indústria recebeu 27% do total de crédito aprovado, enquanto a agropecuária ficou com 26%. No ano passado, a situação era inversa, com a agropecuária recebendo 31% e a indústria apenas 18%.

A reaproximação com o setor industrial não significa a desconsideração do apoio a outros segmentos, como o agronegócio e a infraestrutura, que continuam a ser relevantes. Embora a maior aprovação de crédito sinalize um avanço, os números ainda estão distantes dos patamares históricos. Nos anos 90, por exemplo, a indústria recebia mais de 50% dos recursos do banco, um cenário que foi alterado ao longo dos anos.

Os dados até agora revelam que os segmentos de alimentos e bebidas, mecânica, química e petroquímica, e transportes estão na vanguarda das aprovações de crédito. O apoio renovado à indústria surge em um momento em que o banco, de forma geral, tem aumentado a liberação de empréstimos. Nos últimos doze meses até junho, foram aprovados R$ 208 bilhões para diferentes setores, representando o dobro do que foi liberado dois anos atrás.

O cenário, no entanto, ainda é considerado delicado. O aumento das aprovações é atribuído não apenas à atividade mais aquecida, mas também a um "efeito psicológico" gerado pelo plano governamental, que incentivou as empresas a buscarem financiamento. Apesar do crescimento, a situação geral da indústria continua desafiadora, marcada por custos elevados de financiamento, questões tributárias e pressões competitivas externas.

Dados recentes indicam que a produção, o faturamento e a intenção de investimento na indústria têm mostrado crescimento, embora a capacidade instalada ainda tenha espaço para melhorias sem pressões significativas sobre os preços. As dificuldades, no entanto, são amplas, incluindo fatores como custos de energia e a competitividade com produtos importados, que têm contribuído para a desindustrialização.

Especialistas ressaltam que, embora os números atuais sejam encorajadores, eles não necessariamente refletem uma tendência sustentável. O cenário econômico permanece repleto de incertezas, e a capacidade de recuperação da indústria depende de políticas mais amplas que incentivem investimentos e melhorem o ambiente de negócios.