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Publicado: 26 de outubro de 2025 às 17:42

Lula na Malásia:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu uma visão de mundo multipolar, livre de divisões ideológicas, e posicionou o Brasil como parceiro neutro de todas as nações. Lula rejeitou veementemente a ideia de uma "nova Guerra Fria".

Em um discurso proferido na quinta-feira (23/10/2025), durante encontro com empresários brasileiros e malaios em Jacarta, Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu uma visão de mundo multipolar, livre de divisões ideológicas, e posicionou o Brasil como parceiro neutro de todas as nações. Lula rejeitou veementemente a ideia de uma "nova Guerra Fria", afirmando que o planeta não tolera mais blocos rivais e que o Brasil busca relações equilibradas com Estados Unidos, China, Malásia e outros países para impulsionar o crescimento global. A fala, feita à margem da Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), critica o protecionismo emergente e enfatiza o multilateralismo como ferramenta para investimentos estrangeiros e desenvolvimento sustentável, alinhando-se à estratégia externa brasileira de diversificação de parcerias.

O evento, parte de uma agenda diplomática intensa, reuniu líderes empresariais para discutir oportunidades comerciais, com Lula destacando a transição da política externa brasileira desde 2003, priorizando América do Sul, África e Ásia em vez de uma dependência exclusiva de Europa e EUA. A declaração reforça o compromisso do Brasil com a paz e a cooperação, em um contexto de tensões globais como as tarifas impostas por Trump e rivalidades EUA-China.

O Discurso em Jacarta: Principais Pontos e Citações

Lula iniciou o discurso relembrando a evolução da diplomacia brasileira, criticando o isolamento histórico em relação aos vizinhos sul-americanos e celebrando a abertura para novos horizontes. Ele enfatizou que o mundo atual exige solidariedade, não confrontos, e posicionou o Brasil como um ator que não se alinha a blocos, mas colabora com todos para o progresso mútuo.

  • Rejeição à Nova Guerra Fria: "O mundo de hoje não aceita mais uma nova Guerra Fria."
  • Neutralidade em Disputas Globais: "Não queremos ficar disputando, como se disputou a partir da Segunda Guerra Mundial, quem era do lado da Rússia ou dos Estados Unidos. A gente não quer uma nova disputa entre quem está do lado dos EUA ou do lado da China. A gente quer estar ao lado da China, dos EUA, da Malásia, da Indonésia, de todos os países do mundo que queiram fazer negócios conosco."
  • Foco no Desenvolvimento: "Porque é isso que pode fazer o mundo crescer, é isso que pode fazer o mundo se desenvolver, é isso que pode trazer investimentos de países estrangeiros em outros países estrangeiros."
  • Crítica ao Protecionismo: "Não podemos aceitar o fim do multilateralismo. Nós não podemos aceitar a ideia do protecionismo."

O presidente destacou a importância de investimentos estrangeiros para o crescimento global, argumentando que parcerias abertas beneficiam todos os envolvidos.

Contexto Diplomático: Asean e Estratégia Brasileira

A fala ocorreu durante a Cúpula da Asean, que reúne 10 nações do Sudeste Asiático e parceiros como Brasil, EUA e China, focando em comércio e sustentabilidade. Lula, que assumiu a presidência do G20 em 2024, usa fóruns como esse para promover o Sul Global, com ênfase em agendas como a transição energética e o combate à fome. Desde 2003, o Brasil diversificou relações, reduzindo dependência de Washington e Bruxelas para priorizar Ásia e África, o que gerou US$ 150 bilhões em novos acordos comerciais.

A declaração ecoa a postura de não alinhamento, similar à de líderes como Xi Jinping e Joe Biden (pré-Trump), mas com tom conciliador em meio a tarifas americanas de 50% sobre produtos brasileiros, impostas em agosto de 2025. Lula vê no multilateralismo uma saída para disputas comerciais, alinhando-se à visão de uma "nova ordem global" sem blocos rivais.

 

Iniciativa BrasileiraFocoImpacto
Diversificação desde 2003Ásia, África, Sul-Americana+US$ 150 bi em comércio
G20 Presidência (2024)Transição energética, fome zeroAcordos com 10 nações Asean
MultilateralismoContra protecionismoDiálogo EUA-China via Brasil

Foto: Lula ao lado de empresários em Jacarta, durante o encontro - Arquivo Presidencial

Reações e Implicações Globais

A fala de Lula foi bem recebida por aliados no Sul Global, com elogios de líderes como o indonésio Prabowo Subianto, que destacou o "papel unificador do Brasil". Nos EUA, assessores de Trump minimizaram, focando em "negócios justos", enquanto a China, via embaixada em Jacarta, saudou a "visão equilibrada". No Brasil, a oposição, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), criticou como "ingenuidade", acusando Lula de ignorar "ameaças chinesas".

Implicações:

  • Econômicas: Pode atrair US$ 50 bilhões em investimentos asiáticos até 2030, diversificando exportações além de commodities.
  • Diplomáticas: Reforça Brasil como ponte entre Ocidente e Oriente, facilitando negociações em fóruns como BRICS e G20.
  • Políticas Internas: Fortalece imagem de Lula como estadista, mas expõe divisões com bolsonaristas sobre alinhamentos.

Analistas como o embaixador Rubens Barbosa veem otimismo: "Lula posiciona o Brasil como líder pragmático, evitando armadilhas de blocos".

Perspectivas: Um Brasil na Ponte Global

O discurso sinaliza uma diplomacia ativa, priorizando cooperação sobre confrontos, em linha com a agenda de Lula para 2026. Com a Asean representando 10% do PIB global, o Brasil busca acordos comerciais que equilibrem tensões EUA-China. O próximo passo é uma cúpula bilateral com Pequim em novembro, consolidando a neutralidade como estratégia.