Wikipédia
Em entrevista exclusiva, Sanger propõe nove teses para resgatar neutralidade, como artigos concorrentes e fim de listas negras de fontes
Larry Sanger, cofundador da Wikipédia, afirmou em entrevista exclusiva à Revista Oeste que a plataforma "perdeu o seu caminho" ao abandonar a busca pela verdade objetiva em favor de um viés ideológico predominante, especialmente de esquerda. Descrevendo-se como um "cético metódico", Sanger critica a enciclopédia online por se tornar dogmática, censurando fontes e bloqueando editores, o que compromete sua confiabilidade como ferramenta de conhecimento. Ele propõe uma reforma radical com nove teses, inspiradas em Martinho Lutero, para resgatar a neutralidade original e combater o relativismo que, segundo ele, ameaça o registro imparcial da história e da ciência.
A entrevista, concedida remotamente, reflete preocupações crescentes com a polarização digital: Sanger alerta que a Wikipédia, acessada por bilhões, influencia gerações jovens radicalizadas em universidades, facilitando uma "remoção de más influências" similar à queima de livros em regimes autoritários. Ele questiona: "Até onde a esquerda irá na tentativa de refazer o mundo como deseja?".
“O papel de uma enciclopédia não é declarar dogmaticamente o que os editores acreditam ser a verdade, mas ajudar os indivíduos a descobri-la por conta própria”, enfatiza Sanger, que deixou o projeto em 2002 após vislumbrar seu declínio.
As nove teses de Sanger: um manifesto para reformar a Wikipédia
Motivado pelo agravamento da confiabilidade nos últimos cinco anos, Sanger "pregou" suas propostas na "porta" da Wikipédia, ecoando a Reforma Protestante. As teses visam restaurar a neutralidade, abolir censuras e democratizar decisões:
| Tese | Proposta principal |
|---|---|
| 1. Fim do consenso | Acabar com a tomada de decisões por "consenso" majoritário, que favorece ideologias dominantes. |
| 2. Artigos concorrentes | Permitir versões paralelas de artigos polêmicos para debater visões opostas. |
| 3. Abolir listas negras | Revogar bloqueios a fontes "não confiáveis", promovendo diversidade de perspectivas. |
| 4. Neutralidade original | Reviver a política de neutralidade estrita, sem viés editorial. |
| 5. "Ignore todas as regras" revogada | Eliminar a regra que permite violações em nome da "missão". |
| 6. Revelar líderes | Tornar públicos os administradores e editores influentes. |
| 7. Avaliação pública | Deixar o público ranquear e avaliar artigos por qualidade. |
| 8. Fim de bloqueios indefinidos | Limitar punições a editores para evitar censura arbitrária. |
| 9. Processo legislativo | Criar uma assembleia para resolver disputas, como um "parlamento editorial". |
Se implementadas, Sanger prevê que, em dez anos, a Wikipédia teria artigos neutros, editores identificados por nomes reais e maior maturidade coletiva, menos suscetível a extremismos.
Problemas atuais: viés, censura e risco à sociedade
Sanger aponta o declínio desde 2005, mas acelerado recentemente: artigos enviesados por editores ideológicos, censura via listas negras (que excluem fontes conservadoras) e bloqueios indefinidos a dissidentes. Isso, para ele, torna a plataforma vulnerável a manipulações externas, especialmente da esquerda, que usa a Wikipédia para "refazer o mundo". Ele compara o risco à "limpeza" de conhecimentos indesejados, como remoções de livros em bibliotecas históricas, afetando ciência, história e filosofia.
A entrevista ocorre em meio a críticas globais: Elon Musk apelidou a Wikipédia de "Wokepedia" e lançou o Grokipedia com IA para combater viés de esquerda, iniciativa que Sanger apoia, mas não integra. Ele vê a IA como "bênção" para reorganizar conhecimento, mas alerta que não substitui enciclopédias humanas – modelos de linguagem apenas remastigam dados sem experiência real.
Alternativa de Sanger: Zwibook, a "cópia de segurança da civilização"
Para preservar o conhecimento contra colapso digital ou censura, Sanger criou o Zwibook, um pen drive offline com quase 70 mil livros em domínio público – clássicos da civilização ocidental, como obras de Platão, Shakespeare e a Bíblia. Não editável e sem filtros, o projeto serve como "backup à prova do futuro", garantindo acesso a fontes autênticas para gerações.
“Precisamos de cópias permanentes para evitar a perda de cultura. A internet gera oportunidades, mas também riscos de apagões ou edições políticas”, conclui Sanger, otimista sobre o futuro do conhecimento se houver salvaguardas.
O Zwibook reflete sua visão: enciclopédias devem fomentar pensamento independente, não doutrinação. Sanger permanece cético, mas esperançoso, defendendo que a verdade objetiva existe e pode ser buscada coletivamente.
