PF revela propina de R$ 250 mil mensais a ex-presidente do INSS: pagamentos via pizzaria e imobiliária em esquema bilionário
Operação Sem Desconto: Alessandro Stefanutto, preso por Mendonça, facilitava fraudes em descontos associativos; prejuízo de R$ 6,3 bi afeta 600 mil vítimas, com buscas em 15 estados e DF
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma nova fase da Operação Sem Desconto nesta quinta-feira (14), revelando que o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto recebia propinas de R$ 250 mil mensais para blindar um esquema de fraudes em descontos associativos não autorizados em benefícios de aposentados e pensionistas. Os pagamentos eram feitos via empresas de fachada, como pizzarias e imobiliárias ligadas à Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), que gerou prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, afetando mais de 600 mil vítimas. Stefanutto, exonerado em abril após denúncias iniciais, foi preso preventivamente por ordem do ministro André Mendonça (STF), acusado de corrupção ativa, estelionato previdenciário e organização criminosa.
A operação cumpriu 63 mandados de busca e apreensão, 10 de prisão preventiva e outras medidas cautelares em 15 estados (Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins) e no Distrito Federal. Foram apreendidos dinheiro em espécie (notas de R$ 10, 50 e 100), dólares americanos, armas, munições e veículos de luxo avaliados em mais de R$ 600 mil. Stefanutto, conhecido como "Italiano", atuou como facilitador: primeiro como procurador do INSS, ajudando na celebração de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Conafer em 2017, e depois como presidente, elevando sua propina após julho de 2023.
“Ficou claro que, em troca de sua influência, Stefanutto recebia propinas recorrentes, utilizando diversas empresas de fachada para ocultar os valores. O valor mensal de sua propina aumentou significativamente para R$ 250 mil após assumir a Presidência do INSS”, detalha relatório da PF, destacando que os pagamentos vinham diretamente do escoamento da fraude em massa da Conafer.
Esquema bilionário: descontos indevidos e rede de influência
O golpe envolvia descontos automáticos não autorizados em benefícios previdenciários, beneficiando entidades como a Conafer e a CBFA (Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura). Sem o apoio de gestores como Stefanutto, o esquema seria impossível, gerando milhares de reclamações judiciais e administrativas. Pagamentos eram codificados – "garrafas" significavam valores em espécie, como R$ 1,5 milhão para uma negociação.
Outros alvos incluem:
- José Carlos Oliveira (ex-ministro do Trabalho no governo Bolsonaro, agora Ahmed Mohamad Oliveira): tornozeleira eletrônica.
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho (ex-procurador-geral do INSS) e esposa Thaisa Hoffmann: presos.
- André Paulo Fidelis (ex-diretor de Benefícios do INSS): detido.
- Vinícius Ramos da Cruz (presidente do Instituto Terra e Trabalho - ITT): preso.
- Parlamentares como deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e deputado estadual Edson Araújo (PSB-MA): buscas.
A defesa de Stefanutto, pela advogada Ana Paula Miranda, chama a prisão de "ilegal" e afirma colaboração desde o início, prometendo comprovar inocência. O governo anunciou devolução de valores descontados indevidamente em julho, com contestação prorrogada até 14 de fevereiro de 2026.
| Alvo | Medida | Cargo/Conexão |
|---|---|---|
| Alessandro Stefanutto | Prisão preventiva | Ex-presidente do INSS ("Italiano") |
| José Carlos Oliveira | Tornozeleira eletrônica | Ex-ministro do Trabalho (Bolsonaro) |
| Virgílio Oliveira Filho & esposa | Prisão preventiva | Ex-procurador-geral do INSS |
| André Paulo Fidelis | Prisão preventiva | Ex-diretor de Benefícios do INSS |
| Vinícius Ramos da Cruz | Prisão preventiva | Presidente do ITT |
| Antônio Carlos Antunes Camilo | Já detido desde setembro | "Careca do INSS" |
Impacto e próximos passos: prejuízo e ressarcimento
O esquema expôs fragilidades no INSS, com descontos automáticos sem consentimento, afetando aposentados vulneráveis. A PF investiga lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial, com bens bloqueados para ressarcimento. O Ministério da Previdência reforça: vítimas podem pedir reembolso via app Meu INSS ou agências.
Analistas veem o caso como mais um golpe na imagem do INSS, pós-reformas de 2019. A operação continua, com possível extensão a mais entidades. Para Stefanutto, a prisão em regime fechado pode durar até o fim das investigações; sua defesa busca habeas corpus urgente.
