PF cumpre mandado de busca em investigação de suposta fraude no Enem 2025
Operação policial mira possível vazamento de questões; inquérito apura divulgação indevida de conteúdos sigilosos, com foco em estudante de medicina que fez live com itens semelhantes à prova
A Polícia Federal (PF) cumpriu um mandado de busca e apreensão nesta sábado (23) como parte de investigação sobre suposta fraude no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. A ação, autorizada pela 10ª Vara Federal Criminal de Brasília, visa coletar provas de divulgação indevida de materiais sigilosos, após denúncias de vazamento de questões. O alvo principal é o estudante de medicina Edcley de Souza Teixeira, que realizou uma live em 11 de novembro – cinco dias antes da prova de Ciências da Natureza – apresentando PDFs com itens idênticos ou semelhantes aos da prova real. A PF não divulgou detalhes sobre apreensões, mas o inquérito pode levar a indiciamento por crimes como violação de sigilo e estelionato.
A operação ocorre em meio a protestos de candidatos que exigem anulação do exame, sob a hashtag #AnulaEnem, que acumulou mais de 150 mil menções no X (antigo Twitter). O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) já anularam três questões específicas da prova de 16 de novembro, mas garantem que o exame prosseguirá sem cancelamento total.
“A PF está atuando com rigor para apurar qualquer irregularidade que comprometa a lisura do Enem. O inquérito visa identificar a origem do vazamento e responsabilizar os envolvidos, garantindo igualdade para todos os candidatos”, informou a PF em nota oficial, destacando que a investigação é sigilosa e pode envolver perícia em dispositivos eletrônicos.
Detalhes da operação: foco na live e possível acesso privilegiado
O mandado de busca foi cumprido no endereço de Edcley, em Brasília, com apoio de peritos para análise de computadores, celulares e documentos. A PF apura se o estudante teve acesso indevido a "pré-testes" da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), usados para calibrar dificuldades de provas futuras, ou se houve conluio com cursinhos preparatórios. Edcley, premiado pelo MEC com R$ 5 mil e título de "Talento Universitário" em 2024, alegou em vídeo que os materiais eram de "estudos prévios", mas usuários identificaram pelo menos três questões de Biologia, Química e Física idênticas às da prova.
A investigação, iniciada após denúncias ao Inep, pode resultar em indiciamento por violação de sigilo funcional (art. 325 do Código Penal, pena de 6 meses a 2 anos) e estelionato (art. 171, até 5 anos), se comprovado prejuízo à lisura do exame. Até agora, não há prisões, mas a PF monitora redes sociais para identificar compartilhamentos.
| Elemento da investigação | Detalhes | Possíveis crimes |
|---|---|---|
| Mandado cumprido | Busca e apreensão no endereço de Edcley Teixeira | Violação de sigilo (art. 325 CP) |
| Materiais suspeitos | PDFs com questões idênticas à prova de 16/11 | Estelionato (art. 171 CP) |
| Ação do MEC/Inep | Anulação de 3 questões (uma por disciplina) | Nenhum até o momento, mas inquérito aberto |
| Impacto no Enem | 3,5 mi de inscritos; notas recalculadas em jan/2026 | Possível extensão se mais vazamentos |
Reações: protestos crescem e MEC tranquiliza candidatos
Os estudantes, que bloquearam a sede do Inep na sexta (21), intensificaram o coro por anulação total, alegando perda de isonomia. Natália Souza, 22 anos, desabafou:
“Estudei anos para isso, e agora descubro que alguém teve vantagem. Anule o Enem ou é injustiça.”
O ministro Camilo Santana (Educação) rebateu em coletiva:
“O Enem não será anulado. As três questões foram identificadas e canceladas para preservar a validade do exame. A PF vai punir os responsáveis, mas milhões de candidatos não podem ser penalizados por erro de poucos.”
A UNE (União Nacional dos Estudantes) apoia os protestos, exigindo auditoria independente. O Inep reforça que o banco de questões é rotativo, com 90% não reutilizado, e que o gabarito oficial sai em 28 de novembro.
Contexto do Enem 2025: histórico de vazamentos e confiança abalada
O exame, com provas em 9 e 16 de novembro, já enfrentava críticas por temas como "envelhecimento na sociedade brasileira" na redação. Vazamentos passados, como o de 2009 (que anulou o Enem), alimentam desconfiança. Com 3,5 milhões de inscritos, o teste é porta para universidades via Sisu e Prouni, e irregularidades podem afetar milhares.
Especialistas como Claudia Costin (FGV) defendem: "Anulações pontuais são corretas, mas o MEC precisa de fiscalização digital rigorosa para lives e fóruns." O protesto, pacífico, reflete descontentamento de uma geração que vê o Enem como "jogo de azar".
Para candidatos, aguarde o gabarito e resultados em janeiro. O MEC promete relatório final até dezembro.
