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Publicado: 23 de novembro de 2025 às 14:54

Bolsonaro admite dano à tornozeleira por

Em audiência de custódia, ex-presidente relata paranoia por interação de medicamentos; PF vê risco de fuga na vigília de apoiadores, mas defesa nega intenção de evasão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu, em audiência de custódia por videoconferência, ter danificado sua tornozeleira eletrônica durante um episódio de "alucinação" e "paranoia" provocado pela interação de medicamentos. O depoimento, prestado à juíza federal Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, ocorreu no início da tarde de domingo (23), horas após sua prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) na madrugada de sábado (22). Bolsonaro negou intenção de fuga e atribuiu o ato a uma reação adversa entre pregabalina e sertralina, receitados por médicos diferentes. A juíza manteve a prisão, considerando o risco à ordem pública, enquanto a defesa prepara habeas corpus.

O incidente aconteceu na noite de sexta-feira (21) e madrugada de sábado (22), quando Bolsonaro usou um ferro de solda para tentar abrir a tampa do equipamento, suspeitando de uma escuta. Ele parou por volta da meia-noite e comunicou os agentes de custódia. A prisão preventiva, pedida pela Polícia Federal (PF), não se relaciona à condenação de 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado – que aguarda trânsito em julgado –, mas visa preservar restrições impostas em inquérito por coação, sob as quais Bolsonaro cumpria prisão domiciliar desde agosto.

“Eu estava com alucinação de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa. Teve uma certa paranoia em razão de medicamentos que foram receitados por médicos diferentes e que interagiram de forma inadequada”, relatou Bolsonaro à juíza, conforme ata da audiência.

Contexto do dano: remédios, vigília e suspeita de fuga

Bolsonaro começou a usar um dos medicamentos cerca de quatro dias antes do episódio, e o ferro de solda permanece em sua casa. Nenhuma das pessoas presentes – sua filha, irmão mais velho e um assessor – presenciou o ato. A PF interpretou a tentativa como risco concreto de evasão, agravado pela vigília de oração convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em frente ao condomínio, vista como possível "cortina de fumaça". A residência de Bolsonaro fica próxima a representações diplomáticas estrangeiras, facilitando uma fuga hipotética.

A prisão preventiva, prevista no Código de Processo Penal (art. 312), é temporária e pode ser revogada. Bolsonaro foi detido às 6h20 de sábado (22) sem resistência e transferido para a Superintendência da PF em Brasília, onde passa por exame de corpo de delito. Moraes determinou ausência de algemas, exposição midiática e decisão sobre uniforme e armas pela PF.

 

FatoDetalhes
Data do danoNoite de 21/set/2025 e madrugada de 22/set
Método usadoFerro de solda para abrir tampa (sem rompimento da cinta)
Motivo alegadoAlucinação por interação de pregabalina e sertralina
Vigília relacionadaConvocada por Flávio Bolsonaro para oração pela saúde do pai
Local da prisãoCondomínio em Brasília; transferido à Superintendência da PF
Duração da domiciliar prévia100+ dias, desde agosto, por coação (sem denúncia formal)

Decisão judicial: risco à ordem pública e manutenção da prisão

A juíza Sorrentino manteve a prisão preventiva, considerando o episódio como descumprimento de cautelares que ameaçava a efetividade das restrições. Moraes decretou a medida na madrugada de sábado, citando: tentativa de rompimento da tornozeleira; casos de aliados que fugiram do país; e proximidade com embaixadas. A Procuradoria-Geral da República (PGR), chefiada por Paulo Gonet, anuiu ao pedido da PF:

“Diante da urgência e gravidade dos novos fatos apresentados, a Procuradoria-Geral da República não se opõe à providência indicada pela Autoridade Policial.”

A defesa de Bolsonaro, por Fábio Wajngarten, nega intenção de fuga e prepara habeas corpus, alegando "ilegalidade" e "ausência de risco concreto". A prisão não afeta a sentença de golpe – embargos de declaração rejeitados, restam infringentes pendentes.

Reações: apoio de bolsonaristas e acusações de perseguição

Apoiadores mobilizaram-se no X, com #LiberdadeJairBolsonaro nos trends. Leitores da Revista Oeste reagiram:

“Injustiça tamanha. Nem rezar mais pode. Deus proteja o presidente”, escreveu um usuário. “O STF persegue até orações. Aqui se faz, aqui se paga? Não, aqui se persegue”, comentou outro.

O PL convocou reunião de emergência, com Valdemar Costa Neto coordenando. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chamou de "golpe judicial". O governo Lula silenciou, com fontes do Planalto afirmando que é "decisão judicial isolada".

Críticos, como Guilherme Boulos (Psol-SP), ironizaram: "Orar pelo golpista agora é risco à ordem pública? Justiça seletiva".

A prisão reflete endurecimento do STF contra ameaças à democracia pré-2026. Atualizações virão com o habeas corpus.