Armas e Fraudes: Empresário de Tiro é Preso por Sonegar R$ 14 Mi em ICMS na Bahia
A Bahia ganhou um capítulo sombrio nesta terça-feira (2), com a prisão de Alex Alves Lima, de 46 anos, apontado como o cérebro de um esquema de sonegação fiscal que lesou os cofres públicos em R$ 14 milhões
O mundo das armas e munições na Bahia ganhou um capítulo sombrio nesta terça-feira (2), com a prisão de Alex Alves Lima, de 46 anos, apontado como o cérebro de um esquema de sonegação fiscal que lesou os cofres públicos em R$ 14 milhões. Proprietário do 1991 Clube de Tiro – autointitulado o "maior centro de treinamento da América Latina" –, o empresário foi detido durante a "Operação Fogo Cruzado", deflagrada pela Polícia Civil, Ministério Público da Bahia (MP-BA) e Secretaria da Fazenda (Sefaz). O golpe? Uma rede de empresas fantasmas e "laranjas" que driblava o ICMS, o imposto sobre circulação de mercadorias, essencial para o varejo de armamentos.
A operação, que mobilizou forças-tarefas como o Gaesf/MP-BA, Infip/Sefaz e Necot/Draco, cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em cinco municípios baianos: Feira de Santana (a 100 km de Salvador), Salvador, Irecê, Jussara e Coração de Maria. No total, foram apreendidos nove revólveres e pistolas, centenas de munições, uma granada, celulares, documentos, dispositivos eletrônicos e cerca de R$ 40 mil em espécie. Bens no valor do rombo fiscal foram bloqueados judicialmente, e as investigações prosseguem para mapear toda a quadrilha.
O Esquema: De "Laranjas" a Sucessões Fictícias
O truque era simples, mas devastador: em vez de recolher o ICMS declarado dentro dos prazos legais, o grupo usava manobras como sucessões empresariais fraudulentas e interposição fictícia de sócios e administradores. Empresas interligadas eram criadas com "laranjas" – pessoas de fachada – para ocultar o verdadeiro dono, Alex Alves Lima, e adiar indefinidamente o pagamento do imposto, sem qualquer intenção de quitar a dívida. "É uma associação criminosa que causa danos graves à sociedade, desviando recursos pagos pelos consumidores e impactando políticas públicas e serviços essenciais", afirmou o delegado responsável, destacando que o esquema afetava o comércio de armas, munições e fardamentos.
Além da sonegação continuada, há indícios de lavagem de dinheiro por meio de um comércio de joias paralelo, usado como álibi para as atividades ilícitas. O prejuízo de R$ 14 milhões poderia, por exemplo, equipar 20 unidades de saúde no interior baiano com suprimentos básicos por um ano. Especialistas alertam que fraudes fiscais no setor de armas não são raras: elas exploram brechas regulatórias do Exército e da Receita, facilitando a entrada de recursos sujos no mercado legal.
Quem é Alex Alves Lima: De Instrutor de Tiro a Alvo da Justiça
Apresentando-se nas redes sociais como empresário e instrutor de tiro esportivo, Alex é um dos donos do 1991 Clube de Tiro, com unidades espalhadas por Feira de Santana, Salvador, Irecê, Coração de Maria e Ipirá. Suas postagens mostram um estilo de vida glamoroso: fotos com armamentos de grosso calibre, viagens a Itália, Argentina, Tailândia e Rio de Janeiro, e promoções de cursos de tiro que atraem desde atiradores amadores a profissionais de segurança.
Identificado pela Polícia Civil como líder do grupo criminoso, Alex foi preso em flagrante em sua unidade de Feira de Santana. Sua defesa, a cargo do advogado Hércules Oliveira, minimiza as acusações: "Apreenderam documentos, alguns elementos que nós tivemos acesso, mas nada que venha a tirar do ponto específico sobre aquilo que é o comércio que ele faz, que é o comércio de venda de armas, munições e de fardamentos, algo que é público e notório. Então, o que foi aprendido é relativo a essas questões. Sobre a imputação principal, nós vamos nos aprofundar mais no tema". Oliveira prometeu recorrer da prisão, alegando que as provas são insuficientes.
Impactos e o Fogo Cruzado Contra a Sonegação
A Bahia, que já luta com déficits fiscais agravados pela seca e pela pandemia, vê no caso mais um golpe no bolo do ICMS – principal fonte de receita estadual. "Esses crimes persistentes podem encobrir fraudes ainda mais graves", pondera um promotor do MP-BA, que intensifica ações contra a evasão fiscal no varejo. A operação faz parte de um esforço maior para recuperar ativos e punir quadrilhas que sangram o erário, com perícias em andamento nos materiais apreendidos.
Enquanto Alex aguarda audiência de custódia, o 1991 Clube de Tiro segue sob escrutínio. Resta saber se o "fogo cruzado" da Justiça vai desarmar de vez esses esquemas. Para o contribuinte baiano, uma certeza: o preço da munição subiu – e não só no balcão.
