CEO da Uber anuncia o fim da era dos motoristas humanos: “Em 10 ou 15 anos será um problema real”
A revolução dos carros autônomos não é mais uma promessa de ficção científica. Ela tem data para começar a engolir milhões de empregos ao redor do mundo inclusive no Brasil.
Em entrevistas recentes ao podcast All-In e ao Wall Street Journal, Dara Khosrowshahi, CEO global da Uber, foi categórico: os motoristas de aplicativo estão com os dias contados. “Acho que daqui a dez ou quinze anos isso vai ser um problema real para os motoristas humanos. Não tem como competir com a inteligência artificial”, afirmou.
O plano da Uber em três fases
- Próximos 5–10 anos: frota híbrida Motoristas humanos e robôs vão conviver. Carros autônomos vão operar em rotas e horários previsíveis, enquanto pessoas dirigem nos trechos mais complexos ou em cidades ainda sem mapeamento completo.
- A partir de 2035–2040: domínio dos robôs A rede será majoritariamente autônoma. A Uber espera perder participação para empresas que operarem 100% sem motoristas, como Waymo (Google), Cruise (GM) e novas concorrentes chinesas.
- Fim do motorista como profissão de massa Segundo Khosrowshahi, o custo operacional de um carro autônomo será tão baixo que nenhum motorista humano conseguirá competir em preço.
O que já está rodando nas ruas
- Austin e Atlanta (EUA): centenas de Uber sem motorista (parceria Waymo) já fazem corridas normais.
- Phoenix, Las Vegas e São Francisco: Waymo e Cruise transportam passageiros pagantes 24 horas por dia.
- China: Baidu e Pony.ai operam frotas comerciais em várias cidades sem motorista ou com operador de segurança apenas como backup.
- Outubro de 2025: Uber anunciou investimento de US$ 300 milhões com a Lucid Motors para produzir uma nova linha de veículos elétricos projetados desde o início para direção autônoma.
O impacto no Brasil
Estima-se que mais de 1,4 milhão de brasileiros tirem sua renda principal ou complementar dirigindo para Uber, 99, inDrive e outros apps. A automação ameaça diretamente esse contingente.
Pontos críticos:
- Ausência de política pública: até agora não existe plano federal de requalificação ou renda de transição.
- Concentração de renda: o lucro que hoje é dividido com milhões de motoristas ficará quase inteiramente com as big techs e montadoras.
- Redução de preço para o passageiro: estudos preveem quedas de 40% a 70% no valor das corridas quando não houver salário de motorista.
Reação dos motoristas e sindicatos
“Vão transformar gente em desempregado do dia para a noite”, resume o presidente do Sindicato dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Simovap), que já protocolou projeto de lei na Câmara Municipal para criar um fundo de transição financiado com taxa sobre corridas autônomas.
Vantagens que ninguém contesta
- Segurança: 94% dos acidentes são causados por erro humano. Carros autônomos já apresentam taxa de colisão muito inferior.
- Inclusão: cidades do interior e periferias que hoje não têm Uber à noite poderão ter frota 24 horas.
- Meio ambiente: veículos elétricos programados para rotas otimizadas reduzem emissões.
O que vem pela frente
A Uber garante que a transição será “gradual e responsável”, mas analistas são céticos: quando a tecnologia amadurecer, a pressão por corte de custos será irresistível.
Uma coisa é certa: nos próximos dez anos o maior empregador informal do Brasil vai começar a desaparecer. A pergunta que fica é se o país vai assistir de braços cruzados ou se vai criar alternativas antes que seja tarde demais.
