Roubo na Biblioteca Mário de Andrade: dois homens armados levam obras raras de Henri Matisse em pleno dia
Ação rápida e sem violência marca assalto em equipamento cultural centenário de São Paulo; polícia caça suspeitos que fugiram para metrô
São Paulo – Dois homens armados invadiram na manhã deste domingo (7) a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no centro de São Paulo, e roubaram oito colagens originais do artista Henri Matisse, parte de uma exposição rara em comemoração aos 100 anos do equipamento cultural. O crime ocorreu por volta das 10h15, em um local aberto ao público e repleto de visitantes, mas sem feridos ou disparos.
Segundo relatos de testemunhas e funcionários, os suspeitos agiram com precisão: um deles exibiu uma arma escondida sob a roupa para um vigia, que foi levado a uma sala interna e obrigado a entregar o rádio de comunicação e o celular. Enquanto isso, o segundo criminoso retirou as peças da parede no primeiro andar. Eles dominaram brevemente os funcionários e a segurança antes de fugir em direção à estação Anhangabaú do metrô.
Suspeitos e itens levados
As descrições dos bandidos, repassadas à polícia, apontam para dois homens jovens, de estatura média. Um vestia calça jeans gasta e camisa vermelha; o outro, calça jeans, moletom azul e boné da mesma cor. Armas não foram detalhadas além de uma exibida sob a vestimenta, mas o roubo transcorreu sem violência física.
As obras furtadas são colagens emolduradas do álbum "Jazz", de 1947, considerado um marco do modernismo francês. São oito peças de um conjunto raríssimo – há menos de 300 exemplares desse livro no mundo todo. Elas integravam uma exposição montada em parceria com o Museu de Arte Moderna (MAM-SP), que celebrava o centenário da biblioteca com itens dos anos 1940 e 1950, incluindo livros raros e fotos da produção modernista brasileira. Originalmente, a mostra contava com 20 obras.
Resposta imediata e caçada aos criminosos
A Polícia Militar foi acionada logo após o alerta e isolou a área da biblioteca, na Rua da Consolação, com patrulhas intensificadas no entorno, incluindo o Vale do Anhangabaú. Equipes especializadas em roubos de patrimônio buscam imagens de câmeras de segurança para identificar os autores. Até o momento, não há prisões, e a gestão da prefeitura, sob o prefeito Ricardo Nunes (MDB), não se pronunciou.
Funcionários da biblioteca, abalados, descreveram o pânico inicial: "Eles entraram como se fossem visitantes comuns e, em minutos, mudaram tudo", contou uma atendente que preferiu não se identificar. A unidade, a segunda maior biblioteca pública do Brasil, com 1,5 milhão de itens entre livros, mapas e documentos, foi inaugurada em 1926 e mudou para o prédio atual em 1942, projeto do arquiteto Jacques Pilon que se tornou ícone do modernismo paulista.
Lamento de especialistas: "Valor incalculável"
O roubo gerou repercussão imediata no meio cultural. Cauê Alves, curador-chefe do MAM e responsável pela exposição, lamentou a perda: "É um conjunto raríssimo, com menos de 300 cópias desse livro espalhadas pelo mundo". Já o crítico de arte Tadeu Chiarelli, curador independente, chamou o episódio de "triste e inaceitável": "O valor cultural e artístico é incalculável. A Biblioteca Mário de Andrade é um monumento ao conhecimento no coração de São Paulo, e ver isso profanado dói profundamente".
A direção da biblioteca suspendeu temporariamente o acesso ao andar afetado para perícia, mas o restante do acervo segue disponível. Especialistas alertam que obras como as de Matisse, com seu estilo recortado e colorido inspirado no jazz, circulam no mercado negro de arte, mas sua recuperação é desafiadora devido à raridade.
Contexto de vulnerabilidade cultural
O assalto expõe fragilidades na segurança de equipamentos culturais em grandes cidades brasileiras. Em São Paulo, roubos de patrimônio artístico cresceram 15% nos últimos dois anos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, impulsionados pela valorização de itens modernistas no exterior. Casos semelhantes, como o furto de quadros de Portinari em um museu do Rio em 2023, demoraram anos para resolução.
A Polícia Civil assumirá as investigações, com apoio do Instituto de Criminalística para análise de vestígios. Qualquer informação sobre os suspeitos pode ser repassada pelo Disque-Denúncia (181), com anonimato garantido.
O episódio mancha a celebração do centenário da biblioteca, mas reforça o apelo por investimentos em proteção ao patrimônio: em um país rico em arte, preservar o passado é urgente.
