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Publicado: 10 de dezembro de 2025 às 08:06

Greve de ônibus em São Paulo paralisa frota: 15 empresas recolhem veículos e afetam milhões de passageiros

Sindicato alega falta de pagamento de 13º e benefícios; prefeitura registra BO e chama paralisação de "irresponsável" em movimento iniciado na tarde de 9 de dezembro

A capital paulista foi pega de surpresa na tarde de terça-feira (9 de dezembro de 2025) com uma greve de ônibus que recolheu veículos de 15 empresas operadoras, paralisando linhas em diversas regiões da cidade. O movimento, convocado pelo Sindicato dos Motoristas de Ônibus de São Paulo (SindMotoristas), protesta contra o descumprimento de acordos salariais, como o pagamento do 13º salário e vales-refeição durante férias. A paralisação, iniciada por volta das 16h, afeta diretamente os 8,7 milhões de passageiros diários do sistema municipal de transporte, gerando caos no trânsito e superlotação no metrô.

Motivo da greve: descumprimento de conquistas salariais

O estopim da paralisação foi o não pagamento do 13º salário e dos vales-refeição nas férias – benefícios conquistados na campanha salarial recente e previstos para serem quitados em setembro. Segundo o SindMotoristas, as empresas ignoraram os prazos para setembro, outubro e novembro, e sinalizaram que dezembro também ficaria sem repasse. Após pressão sindical, as operadoras prometeram o pagamento para o dia 12 de dezembro, junto com os valores retroativos, mas nada foi depositado até o momento da convocação da greve.

Em declaração exclusiva à CNN Brasil, o sindicato resumiu a insatisfação: “Não foi só o 13º. O 13º e o VR nas férias, que foi uma conquista nossa na campanha salarial. O pagamento seria em setembro. Não pagaram setembro, outubro e novembro. Não iam pagar dezembro. A gente pressionou, disseram que iam pagar dia 12 de dezembro e o retroativo. Não pagaram nada.” A entidade enfatiza que o movimento é legal e necessário para garantir direitos básicos dos trabalhadores, que lidam com jornadas exaustivas e inflação corroendo o poder de compra.

Empresas envolvidas: 15 operadoras recolhem frota inteira

Quinze empresas de ônibus aderiram à greve e recolheram todos os veículos das garagens, interrompendo o serviço em corredores como o ABC Paulista, Zona Leste e Zona Sul. A lista completa das aderentes inclui:

  • Express
  • Gato Preto
  • Santa Brígida
  • Sambaíba
  • Viação Metrópole
  • Ambiental
  • Via Sudeste
  • Viação Grajaú
  • Mobibrasil
  • Campo Belo
  • Gatusa
  • KBPX
  • Transppass
  • Transunião
  • Movebuss

Essas operadoras respondem por uma fatia significativa da frota municipal, que conta com cerca de 14 mil ônibus no total. A adesão total ao recolhimento de veículos significa que linhas inteiras, como as que atendem terminais como Jabaquara e Santo Amaro, ficaram sem operação, forçando passageiros a recorrerem a apps de transporte ou ao trem e metrô, que registraram picos de lotação acima de 150% da capacidade.

Impacto na população: caos no trânsito e prejuízos para 8,7 milhões de usuários

A greve pegou a população de surpresa, sem aviso prévio das empresas, e transformou o horário de pico em um pesadelo logístico. Moradores da periferia, dependentes do ônibus para trabalho e estudo, foram os mais afetados: relatos de filas quilométricas em pontos improvisados e aumento de 300% nas corridas de Uber e 99 foram registrados nas redes sociais. O Centro de Operações de São Paulo (SPTrans) estimou que pelo menos 40% das linhas foram impactadas na tarde de terça, com prejuízos econômicos iniciais na casa dos R$ 50 milhões só em perda de produtividade.

Especialistas em mobilidade urbana alertam que paralisações como essa agravam a desigualdade: enquanto classes médias optam por alternativas pagas, trabalhadores informais e estudantes de baixa renda enfrentam horas de espera ou caminhadas longas. Até a noite de 9 de dezembro, não havia indícios de fim imediato do movimento, com o sindicato convocando assembleias para a manhã de quarta-feira (10).

Reação da prefeitura: BO contra empresas e acusação de "irresponsabilidade"

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) reagiu com dureza, registrando boletim de ocorrência contra as 15 empresas na tarde de 9 de dezembro, por violação à legislação que exige comunicação prévia de 48 horas para greves no setor de transporte coletivo. Em nota oficial, a Prefeitura de São Paulo afirmou que os repasses municipais às concessionárias estão em dia e que o pagamento do 13º é "responsabilidade exclusiva das operadoras". O comunicado classificou a paralisação como um ato de “negligência, irresponsabilidade e falta de compromisso” com a população, prometendo multas de até R$ 100 mil por hora de interrupção e possível intervenção judicial para retomar o serviço.

A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes (SMT) ativou um plano de contingência, com reforço de 200 ônibus extras do EMTU (da região metropolitana) para linhas críticas, mas admitiu limitações. Nunes, em live rápida às 18h, cobrou diálogo imediato: “Não aceitamos que o paulistano pague o preço pela ganância das empresas. Vamos negociar, mas com o povo em primeiro lugar.”

Perspectivas: negociações em andamento e lições para o setor

Até o fechamento desta edição, na noite de 9 de dezembro, não havia resolução à vista. O SindMotoristas marcou reunião de emergência com as empresas para esta quarta-feira (10), sob mediação da Justiça do Trabalho, que pode determinar o retorno mínimo da frota (essencialidade de 30% dos veículos). Analistas preveem que o impasse pode se estender até o fim de semana, coincidindo com o pico de compras natalinas, ampliando o caos.

O episódio expõe fragilidades crônicas no sistema de concessões de ônibus em São Paulo: endividamento das operadoras, reajustes tarifários atrasados e pressões inflacionárias. Para 2026, ano eleitoral, a greve pode virar munição política contra Nunes, que prometeu modernização do transporte. Enquanto isso, o paulistano segue refém: o direito à mobilidade colide com o direito ao salário digno, e ninguém sai ganhando no engarrafamento da vida real.