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Publicado: 13 de dezembro de 2025 às 13:54

Por que a Alemanha lucra com produtos brasileiros no agronegócio

País europeu importa commodities do Brasil, agrega valor e vende produtos industrializados a preços mais altos

A Alemanha tem ampliado seus ganhos no comércio com o Brasil no setor do agronegócio, mesmo sem ser uma grande produtora de matérias-primas agrícolas. O motivo está na estratégia adotada pelo país europeu: importar produtos brasileiros em estado bruto, agregar valor por meio da industrialização e revender esses itens ao mercado interno e internacional com margens significativamente maiores.

O Brasil é um dos principais fornecedores de commodities agrícolas para a Alemanha. Entre os produtos mais importados estão café verde, suco de laranja, farelo de soja, pimenta, tabaco e frutas. Esses itens chegam ao mercado europeu com preços relativamente baixos, pois saem do país de origem com pouco ou nenhum processamento.

Commodities geram volume, mas pouco lucro

O café é um dos exemplos mais claros dessa relação comercial. O Brasil lidera a exportação mundial de café em grão, mas vende a maior parte da produção como commodity. Após a importação, países como a Alemanha realizam etapas como torrefação, moagem, encapsulamento e branding, transformando o produto em itens de maior valor agregado.

Na prática, isso significa que uma saca de café vendida pelo Brasil por pouco mais de R$ 1 mil pode resultar em produtos finais comercializados por valores muito superiores no mercado europeu, especialmente quando vinculados a marcas fortes e padrões de qualidade elevados.

Alemanha atua como polo de redistribuição

Além do consumo interno, a Alemanha exerce um papel estratégico como centro logístico da União Europeia. Parte dos produtos agrícolas brasileiros que entram no continente é redistribuída para outros países do bloco, ampliando o alcance das exportações brasileiras, mas mantendo a maior parcela do valor agregado fora do Brasil.

Esse modelo de comércio reforça a posição alemã como intermediária na cadeia global de alimentos, concentrando tecnologia, industrialização e distribuição.

Desafio histórico para o Brasil

Especialistas apontam que o Brasil ainda enfrenta dificuldades para avançar na exportação de produtos industrializados do agronegócio. Fatores como carga tributária, logística, custo industrial, falta de incentivos e barreiras sanitárias dificultam a ampliação da presença de produtos brasileiros com maior valor agregado no mercado europeu.

Enquanto isso, países importadores seguem capturando a maior parte do lucro ao transformar matérias-primas em produtos prontos para o consumo.

Sustentabilidade entra no centro do debate

Nos últimos anos, novas exigências ambientais impostas pela União Europeia passaram a influenciar o comércio internacional. Regras relacionadas à rastreabilidade, combate ao desmatamento e redução de emissões podem impactar diretamente as exportações brasileiras.

Ao mesmo tempo, essas exigências também representam uma oportunidade para produtores que investem em práticas sustentáveis e certificações, abrindo espaço para produtos diferenciados e com maior valor agregado.

Caminhos para mudar o cenário

Analistas defendem que o Brasil pode ampliar seus ganhos na relação com a Alemanha ao investir em industrialização, inovação, fortalecimento de marcas nacionais e acesso direto ao consumidor final. Produtos como café torrado, alimentos processados, orgânicos e itens premium têm potencial para melhorar a balança comercial e reduzir a dependência das commodities.