Trump suspende tarifas de 10% sobre café, carne e frutas brasileiras, mas mantém taxa extra de 40% do
Ordem executiva beneficia exportadores de açaí, banana e mandioca, aliviando inflação nos EUA; negociações com Lula avançam para acordo provisório até novembro
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que suspende as tarifas recíprocas de 10% sobre uma ampla gama de produtos agrícolas importados, incluindo itens brasileiros como café, cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-pará, tapioca, mandioca, banana, laranja e coco. A medida, anunciada nesta sexta-feira (14), entra em vigor a partir da meia-noite de 13 de novembro (horário local) e beneficia todos os parceiros comerciais dos EUA, mas não altera a tarifa adicional de 40% imposta em julho sobre vários produtos brasileiros – o chamado "tarifaço" –, que eleva a alíquota total para até 50% em alguns casos. A decisão reflete pressões inflacionárias nos EUA e negociações bilaterais com o Brasil, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca revogar as sanções ligadas a questões judiciais.
A suspensão foi recomendada por autoridades americanas que monitoram o comércio global, considerando negociações internacionais, demanda interna e capacidade produtiva dos EUA. Trump justificou a mudança para aliviar custos ao consumidor, em um contexto de inflação de alimentos em alta: os preços subiram 2,7% em relação ao ano anterior, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.
“É uma boa notícia para os nossos produtores e para os consumidores norte-americanos. Espero que seja seguida de outras que beneficiem nossos produtos manufaturados, como calçados e máquinas”, afirmou Celso Amorim, assessor especial da Presidência do Brasil.
Impacto no Brasil: alívio para o agro, mas tarifaço persiste
O Brasil, quarto maior fornecedor de alimentos aos EUA com US$ 7,4 bilhões em exportações em 2024 (atrás de UE, México e Canadá), ganha previsibilidade imediata. O país responde por um terço das importações americanas de café – os EUA são o maior consumidor global, mas produzem quase nada –, e as tarifas haviam causado uma queda de 47% nas exportações brasileiras em setembro de 2025, em comparação a 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Na carne bovina, o Brasil fornece 23% do consumo americano, sendo o maior exportador mundial e segundo maior mercado para o produto (atrás da China). Os EUA enfrentam escassez histórica: o menor rebanho de gado em 74 anos, devido a secas e preços baixos, elevando custos nos supermercados. A suspensão também favorece frutas como manga e goiaba (US$ 56 milhões exportados em 2024, com o Brasil em quarto lugar, atrás de México, Peru e Equador), onde produtores enfrentaram cancelamentos de pedidos e estoques encalhados.
Outros itens beneficiados incluem açaí e castanha-do-pará, vitais para a economia amazônica. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) celebrou:
“A medida reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne brasileira, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial.”
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou o "retorno do diálogo".
| Produto | Participação brasileira nas importações dos EUA (2024) | Impacto das tarifas (2025) |
|---|---|---|
| Café | 33% | Queda de 47% nas exportações (setembro) |
| Carne bovina | 23% | Preços +2,7% nos supermercados |
| Manga/goiaba | 4º fornecedor (US$ 56 mi) | Pedidos cancelados por produtores |
| Açaí/castanha/tapioca | Relevante para nicho premium | Inflação agravada nos EUA |
Contexto das negociações: de tensão a otimismo bilateral
As tarifas de 10% foram anunciadas em abril como "recíprocas" a barreiras globais, mas o tarifaço de 40% veio em julho, motivado pela insatisfação de Trump com o julgamento de Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos por tentativa de golpe em ação relatada por Alexandre de Moraes (STF). Isso incluiu sanções via Lei Magnitsky, proibindo transações financeiras de autoridades brasileiras com empresas americanas.
Desde o breve encontro entre Lula e Trump na ONU em setembro, as tratativas reaqueceram. Em outubro, na primeira conversa, Trump admitiu "saudade" de produtos brasileiros como o café. Na terça (11), ele mencionou possível redução em tarifas sobre café à Fox News. Na quinta (13), o chanceler Mauro Vieira reuniu-se pela terceira vez com o secretário de Estado Marco Rubio em Washington, após encontro no G7 (Canadá). Vieira espera resposta à proposta brasileira de 4 de novembro "nos próximos dias", visando um acordo provisório até o fim de novembro – um "mapa do caminho" para negociações de 2-3 meses.
Paralelamente, Trump reduziu tarifas de café e bananas em acordos com Argentina, Guatemala, Equador e El Salvador na quinta (13), sinalizando flexibilidade ante a inflação.
Implicações: alívio econômico, mas desafios judiciais à frente
A suspensão devolve previsibilidade ao setor agro brasileiro, reduzindo estoques encalhados e impulsionando exportações em um ano de safra volátil. Para os EUA, alivia pressões inflacionárias e fortalece o eleitorado rural. Economistas alertam que tarifas repassam custos finais aos consumidores, contrariando promessas de Trump.
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luís Rua, esclareceu:
“As novas isenções não mudam a tarifa adicional de 40% imposta por Trump sobre vários produtos brasileiros em julho – há uma negociação específica em curso sobre o chamado 'tarifaço'.”
Com eleições americanas de meio de mandato em 2026, o timing é estratégico para Trump conter críticas econômicas. Para o Brasil, o passo abre portas para alívio no tarifaço, mas o tema judicial segue sensível, com sanções a Moraes ainda em vigor.
