Políticas de Trump e suas consequências para a economia Brasileira
Segundo analistas, a política de “América Primeiro” de Trump pode abrir portas e criar obstáculos para o Brasil, dependendo da extensão de suas ações.
Nesta segunda-feira (20), Donald Trump assume novamente a presidência dos Estados Unidos. Desde sua primeira candidatura em 2016, suas principais bandeiras permanecem praticamente inalteradas. O presidente reeleito mantém o lema “America First” (América em primeiro lugar) como norte de suas políticas, enfatizando o rigor contra a imigração ilegal e a proteção da economia americana, em um cenário global marcado pela polarização política. A vitória sobre Kamala Harris, candidata democrata, foi apertada. Trump conquistou 49,8% dos votos contra 48,3% de Harris, assegurando 312 votos no Colégio Eleitoral, incluindo estados decisivos como Carolina do Norte, Pensilvânia e Michigan, enquanto Harris ficou com 226 votos. A disputa foi acompanhada por projeções incertas e oscilações constantes entre os candidatos.
Um Mundo Transformado
Desde 2021, quando terminou o mandato de Trump após sua derrota para Joe Biden, o panorama global mudou significativamente. A pandemia de Covid-19 foi superada, mas conflitos de grande escala surgiram, como a guerra na Ucrânia em 2022 e o conflito em Gaza em 2023. Essas crises impulsionaram o custo das commodities e geraram desafios diplomáticos não vistos desde a Segunda Guerra Mundial. Com o retorno ao poder, Trump reafirma seu compromisso com a máxima “Make America Great Again” e promete ações imediatas para limitar a imigração e aumentar tarifas sobre produtos estrangeiros. A expectativa é que essas medidas façam parte de suas primeiras ações presidenciais.
As Propostas Econômicas de Trump
Ao longo de suas campanhas, Trump sempre defendeu impulsionar a economia americana, proteger a indústria nacional e reduzir o déficit comercial. No entanto, muitas de suas ideias não foram detalhadas ou demonstraram viabilidade questionável. Se aplicadas com rigidez, algumas propostas podem gerar pressão inflacionária.
Redução de impostos
Trump planeja ressuscitar o Tax Cuts and Jobs Act de 2017, reduzindo impostos para a classe média e simplificando o sistema tributário. Ele também propõe baixar a alíquota corporativa de 21% para 15% para empresas que produzem nos Estados Unidos, além de isentar benefícios da Previdência Social e gorjetas de tributações.
Aumento de tarifas de importação
Uma de suas promessas mais controversas é elevar as tarifas sobre produtos importados, com taxas entre 10% e 20%, chegando a 60% para itens chineses. Trump já sugeriu impor tarifas de 100% sobre países do BRICS que optem pela desdolarização do comércio. Um novo serviço de receita externa seria criado para administrar essas tarifas, favorecendo produtos americanos, mas encarecendo o custo de vida.
Limitação de juros em cartões de crédito
Ele também prometeu limitar os juros de cartões de crédito a 10%, como forma de aliviar a pressão sobre os trabalhadores.
Energia e produção interna
Trump planeja expandir a exploração de petróleo, incluindo perfurações no Ártico, para reduzir custos de produção e fortalecer a segurança energética americana.
Redução de gastos públicos
Sob a liderança de Elon Musk em uma nova comissão para eficiência governamental, Trump promete eliminar fraudes em até seis meses e elevar o limite do imposto estadual SALT, medida criticada por beneficiar os mais ricos.
Efeitos para o Brasil
As políticas de Trump podem gerar impactos mistos no Brasil. Segundo Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos, o fortalecimento do dólar impulsionado por suas medidas deve pressionar o real e aumentar custos de importação. Ele também menciona o risco de tensão diplomática em um possível confronto entre os dois países. Fabio Louzada, economista e fundador da Eu Me Banco, aponta que a valorização do dólar aumentaria a inflação no Brasil, elevando o preço de produtos cotados na moeda americana, como alimentos básicos. Contudo, ele também vê oportunidades: “O Brasil pode se beneficiar na exportação de commodities se a China diversificar suas fontes de importação em resposta às tarifas americanas.” Marcello Carvalho, economista da WIT Invest, ressalta que uma desaceleração econômica chinesa combinada com uma economia americana aquecida poderia aumentar a demanda por produtos brasileiros nos EUA. No entanto, ele alerta que uma menor dependência dos EUA por petróleo estrangeiro pode afetar empresas como a Petrobras. Se as tarifas forem implementadas, os EUA enfrentarão pressão inflacionária, o que pode levar o Federal Reserve a elevar as taxas de juros. Isso diminuiria a atratividade de ativos brasileiros, já que investidores prefeririam opções mais seguras com rendimentos mais altos dentro dos Estados Unidos.