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Publicado: 17 de maio de 2025 às 15:27

Creche Bebê Reborn: Um Fenômeno em Ascensão e Suas Controvérsias

Creche Bebê Reborn: Um Fenômeno em Ascensão e Suas Controvérsias O Crescimento das Bonecas Hiper-realistas e os Debates sobre Saúde Mental

Nos últimos anos, o universo dos bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos com impressionante fidelidade — tem experimentado um crescimento exponencial, especialmente no Brasil. Essas bonecas, feitas artesanalmente com materiais como silicone e vinil, possuem detalhes minuciosos, como textura de pele, veias aparentes, cabelos implantados fio a fio e até peso semelhante ao de um bebê real. O que começou como um hobby de colecionismo ou uma forma de arte evoluiu para um fenômeno cultural que inclui a criação de "creches" para bebês reborn, onde entusiastas simulam cuidados maternos, gerando tanto fascínio quanto polêmica.

O Boom dos Bebês Reborn no Brasil

A popularidade dos bebês reborn no Brasil ganhou força significativa em 2025, impulsionada pelas redes sociais. Influenciadoras como Nane Reborn e Mylla Reborn, que compartilham rotinas diárias com seus bonecos, acumulam milhares de seguidores. Nane, por exemplo, começou a colecionar há 20 anos, inspirada por um programa de TV, e hoje transformou sua paixão em profissão, vendendo bonecas e criando conteúdo online. Mylla, por outro lado, realiza o sonho de cuidar de um reborn como uma forma de encontrar paz e amor, compartilhando vídeos que muitos acham acolhedores.

Os preços dessas bonecas variam amplamente, de R$ 750 a R$ 15.000, dependendo do realismo e dos materiais utilizados. Modelos mais caros, feitos de silicone sólido, podem incluir mecanismos que simulam batimentos cardíacos ou até "urinar". Esse mercado em expansão também deu origem a eventos, como o organizado por Andreia Janaina no Parque Ibirapuera, e a propostas legislativas, como o "Dia da Cegonha Reborn" no Rio de Janeiro, que reconhece o valor cultural desse universo. Lojas como Alana Babys, que se autodenomina a maior maternidade de bebês reborn do Brasil, oferecem experiências que simulam uma maternidade real, atraindo um público cada vez maior.

Creches Bebê Reborn: Uma Nova Realidade

Um dos desdobramentos mais curiosos desse fenômeno é a criação de "creches" para bebês reborn. Esses espaços, físicos ou virtuais, são dedicados a atividades que imitam o cuidado com crianças reais: trocar fraldas, alimentar, passear com carrinhos e até organizar "consultas médicas". Influenciadoras como Yasmin Becker viralizaram ao simular atendimentos de urgência com seus bonecos, enquanto outras, como Gracyanne Barbosa, que "adotou" um reborn chamado Benício, compartilham o impacto emocional positivo que essas bonecas trazem. No entanto, essas práticas também geram estranhamento. Vídeos de partos simulados, como os de Carolina Rossi (Sweet Carol), ou de rotinas maternas detalhadas, frequentemente dividem opiniões, com muitos questionando os limites entre brincadeira e realidade.

Polêmicas e o Impacto na Mente Humana

O fenômeno dos bebês reborn não é apenas uma questão de hobby ou arte; ele toca em aspectos profundos da psique humana, levantando debates acalorados sobre saúde mental. Psicólogos e psiquiatras têm opiniões divididas. Por um lado, especialistas como Leila Tardivo, da USP, e Ignacio e Cupchik, da Universidade de Toronto, apontam que os reborns podem ter um papel terapêutico. Eles ajudam a lidar com luto, solidão ou até Alzheimer, ao estimular memórias afetivas e proporcionar conforto emocional. Em contextos clínicos, essas bonecas podem ser usadas para elaborar perdas gestacionais ou traumas, funcionando como objetos transicionais.

Por outro lado, há preocupações significativas. A psicóloga Laís Mutuberria alerta que, sem mediação profissional, o apego excessivo a um reborn pode transformar um processo terapêutico em fetichização ou isolamento social. Quando o vínculo com a boneca substitui relações humanas reais, há riscos de cristalização de padrões dissociativos, agravamento de depressão ou ansiedade, e até distúrbios psiquiátricos em pessoas com estruturas emocionais mais frágeis. O psiquiatra Alceu Gomes destaca que, enquanto a prática permanece no campo lúdico, ela é benéfica, mas torna-se preocupante se passa a ser o único foco da vida da pessoa, prejudicando sua rotina e relações.

Além disso, o fenômeno levanta questões sociológicas e culturais. Alguns críticos, como apontado em análises no Medium, veem os reborns como um reflexo de uma sociedade narcísica, onde o afeto é "plastificado" e controlado, evitando a imprevisibilidade das relações humanas reais. Outros, como em posts no X, enxergam nisso uma mercantilização do afeto, onde até a maternidade se torna um produto do capitalismo. Há também quem questione se isso reflete um adoecimento social mais amplo, com adultos buscando preencher vazios emocionais de forma artificial.

O Equilíbrio entre Fantasia e Realidade

Os bebês reborn e suas "creches" simbolizam uma interseção complexa entre arte, terapia e comportamento humano. Para muitos, essas bonecas oferecem um espaço seguro para expressar emoções, sejam elas de cuidado, luto ou nostalgia. No entanto, o fenômeno também expõe as fragilidades da mente humana em um mundo cada vez mais digital e desconectado, onde a busca por conexões emocionais pode levar a substitutos simbólicos. A chave, segundo especialistas, está no equilíbrio: o lúdico deve ser uma ponte para a realidade, não um refúgio que a substitua.

Enquanto o debate continua, uma coisa é certa: os bebês reborn vieram para ficar, desafiando normas sociais e nos forçando a refletir sobre o que significa cuidar, amar e ser humano em tempos tão singulares.