Sanae Takaichi Assume como Primeira Líder Feminina do Japão, com Agenda Conservadora e Desafios Econômicos
Em uma sessão extraordinária da Câmara Baixa do Parlamento japonês nesta terça-feira (21), Sanae Takaichi, de 64 anos, foi eleita a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão
Em uma sessão extraordinária da Câmara Baixa do Parlamento japonês nesta terça-feira (21), Sanae Takaichi, de 64 anos, foi eleita a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão, marcando um marco histórico para o país. Com 237 votos favoráveis em uma casa de 465 assentos, ela superou o oposicionista Yoshikoko Noda e assume o posto em meio a uma coalizão recém-formada com o Partido da Inovação (Ishin no Kai), que reforça uma guinada à direita na política nipônica.
Takaichi, líder do Partido Liberal Democrata (PLD), substitui Shigeru Ishiba, que renunciou após apenas um ano no poder devido a reveses eleitorais em julho. Sua ascensão encerra um vácuo político de três meses e sinaliza uma era de políticas mais assertivas, com ênfase em segurança nacional e estímulos fiscais, mas sem avanços significativos na agenda de gênero.
Trajetória Política e Influências Pessoais
Eleita deputada pela primeira vez em 1993, representando sua cidade natal de Nara, Takaichi construiu uma carreira marcada por cargos chave, como ministra da Segurança Econômica (2022-2024) e de Assuntos Internos. Discípula do falecido Shinzo Abe, ela advoga por uma versão atualizada do "Abenomics", com gastos fiscais expansionistas, reformas estruturais e afrouxamento monetário para impulsionar a quarta maior economia global.
Antes da política, Takaichi era conhecida por seu lado rebelde: na juventude, tocava bateria em uma banda de heavy metal e pilotava motos Kawasaki, sonhando com independência em uma sociedade conservadora. Autoproclamada "workaholic", ela prometeu abandonar o "equilíbrio entre vida pessoal e profissional", exortando colegas a "trabalharem como cavalos". Essa determinação a levou a vencer a eleição interna do PLD em setembro, derrotando Shinjiro Koizumi após duas tentativas frustradas em 2024.
Foto: Takaichi durante campanha eleitoral em Nara, sua terra natal - Noriko Hayashi/The New York Times
Posições Conservadoras e Desafios de Gênero
Apesar de quebrar o teto de vidro como a primeira mulher no cargo, Takaichi mantém visões tradicionais: opõe-se ao casamento igualitário, à sucessão imperial feminina e à adoção de sobrenomes diferentes por casais. Em seu gabinete, nomeou apenas duas ministras e uma assessora especial mulher, apesar de promessas de maior inclusão.
O Japão, que ocupa a 118ª posição no Índice Global de Lacunas de Gênero de 2025, tem apenas 15% de mulheres na Câmara Baixa e duas governadoras em 47 províncias. Críticos, como a comentarista Chiyako Sato, questionam se Takaichi priorizará diversidade: "Suas políticas são agressivas e ignoram o reconhecimento da pluralidade". Ainda assim, ela apoia iniciativas para saúde feminina, como tratamento de fertilidade e conscientização sobre menopausa, alinhadas a papéis tradicionais de mães e esposas.
Agenda de Segurança e Relações Externas
Takaichi defende um exército mais robusto, maior investimento em cibernética, fusão nuclear e restrições imigratórias. Frequentadora do Santuário Yasukuni – controverso por homenagear criminosos de guerra –, suas visões revisionistas sobre a Segunda Guerra Mundial podem tensionar laços com China e Coreia do Sul, que veem o local como glorificação do imperialismo japonês. Recentemente, optou por enviar um ornamento em vez de visitar o santuário, sinalizando cautela.
A nova coalizão com o Ishin no Kai, de direita, rompe com o moderado Komeito, impulsionando uma agenda hawkish. Analistas preveem fortalecimento da aliança com os EUA, especialmente sob Donald Trump, mas desafios em negociações regionais.
Prioridades de Takaichi | Detalhes Principais |
---|---|
Segurança Nacional | Exército forte, cibernética e restrições migratórias |
Economia | Gastos fiscais, Abenomics 2.0 e fusão nuclear |
Gênero e Família | Saúde feminina, mas oposição a casamento igualitário e sucessão imperial masculina |
Relações Exteriores | Estabilidade com China/Coreia, parceria EUA |
Desafios Econômicos e Políticos Imediatos
Assumindo em meio a inflação crescente e descontentamento popular, Takaichi deve apresentar um pacote de estímulos até dezembro para combater o encarecimento da vida cotidiana. Sua coalizão instável – após derrotas do PLD – e a necessidade de equilibrar austeridade com crescimento testarão sua liderança. Mercados veem otimismo em sua postura pró-estímulo, mas alertam para riscos fiscais.