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Publicado: 15 de novembro de 2025 às 09:00

Trump suspende tarifas de 10% sobre café, carne e frutas brasileiras: alívio para exportadores, mas

Decisão via ordem executiva beneficia itens como açaí, banana e mandioca, mas não altera taxa extra imposta aos EUA em julho

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (14) a suspensão das tarifas recíprocas de 10% sobre uma série de produtos agrícolas importados de todos os parceiros comerciais, incluindo o Brasil. A medida, formalizada por ordem executiva, isenta itens como café, vários cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-pará, tapioca, mandioca, banana, laranja e coco, aliviando pressões inflacionárias nos EUA e beneficiando exportadores brasileiros.

A decisão entra em vigor a partir da meia-noite de 13 de novembro (horário local), após recomendações de autoridades americanas que monitoram o comércio, considerando negociações internacionais, demanda interna e capacidade produtiva dos EUA. No entanto, como esclareceu o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luís Rua, a suspensão não afeta a tarifa adicional de 40% imposta especificamente a produtos brasileiros em julho – o chamado "tarifaço" –, que eleva a alíquota total para até 50% em alguns casos.

“É uma boa notícia para os nossos produtores e para os consumidores norte-americanos. Espero que seja seguida de outras que beneficiem nossos produtos manufaturados, como calçados e máquinas”, declarou o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, ao G1.

Impacto no Brasil: café e carne lideram ganhos

O Brasil, quarto maior fornecedor de alimentos aos EUA (US$ 7,4 bilhões em 2024, atrás de UE, México e Canadá), é diretamente beneficiado. O país responde por um terço das importações americanas de café – os EUA são o maior consumidor global, mas produzem quase nada. As tarifas haviam impulsionado a inflação do "cafezinho" nos EUA, com exportações brasileiras caindo 47% em setembro de 2025 em relação a 2024, segundo dados do MDIC.

Na carne bovina, o Brasil fornece 23% do consumo americano, sendo o maior exportador mundial e segundo maior mercado para o produto (atrás da China). Os EUA enfrentam escassez histórica: menor rebanho de gado em 74 anos, devido a secas e preços baixos, o que elevou custos nos supermercados. A suspensão também favorece frutas como manga e goiaba (US$ 56 milhões exportados em 2024), onde o Brasil é o quarto fornecedor.

Outros itens beneficiados incluem açaí e castanha-do-pará, essenciais para a biodiversidade amazônica e economia local. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) celebrou:

“A medida reforça a confiança no diálogo técnico e reconhece a qualidade da carne brasileira, contribuindo para a segurança alimentar global”, afirmou a entidade.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reuniu-se com sua equipe para avaliar o anúncio e destacou o "retorno do diálogo".

 

ProdutoParticipação brasileira nas importações dos EUA (2024)Impacto das tarifas (2025)
Café33%Queda de 47% nas exportações (setembro)
Carne bovina23%Preços +2,7% nos supermercados
Manga/goiaba4º fornecedor (US$ 56 mi)Pedidos cancelados por produtores
Açaí/castanha/tapiocaRelevante para nicho premiumInflação agravada nos EUA

Contexto das negociações: de tensão a otimismo

As tarifas de 10% foram anunciadas em abril como "recíprocas" a barreiras globais, mas o tarifaço de 40% veio em julho, motivado pela insatisfação de Trump com o julgamento de Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos por tentativa de golpe em ação relatada por Alexandre de Moraes (STF). Isso proibiu transações financeiras de autoridades brasileiras via empresas americanas, sob a Lei Magnitsky.

Desde o breve encontro entre Lula e Trump na ONU em setembro, as tratativas reaqueceram. Na terça (11), Trump mencionou possível redução em tarifas de café à Fox News, citando "saudade" do produto brasileiro em conversa com Lula em outubro. Na quinta (13), o chanceler Mauro Vieira reuniu-se pela terceira vez com Marco Rubio em Washington, após encontro no G7 (Canadá). Vieira espera resposta à proposta brasileira "nos próximos dias", visando acordo provisório até fim de novembro – um "mapa do caminho" para negociações de 2-3 meses.

“Trump manifestou intenção de resolver rapidamente e manter boa relação com o Brasil. Gostou muito da reunião com Lula na Malásia”, relatou Vieira.

Paralelamente, Trump reduziu tarifas de café e bananas em acordos com Argentina, Guatemala, Equador e El Salvador na quinta (13), sinalizando flexibilidade ante inflação (alimentos +2,7% em 2025).

Implicações: alívio econômico, mas desafios à frente

A suspensão devolve previsibilidade ao setor agro, reduzindo custos para consumidores americanos e impulsionando exportações brasileiras – crucial em ano de safra volátil. Economistas alertam que as tarifas repassam custos finais, contrariando promessas de Trump. Para o Brasil, o passo abre portas para alívio no tarifaço, mas o tema judicial segue sensível.

Celso Amorim vê potencial para expansão em manufaturados. Com eleições americanas de meio de mandato em 2026, o timing é estratégico para Trump conter críticas econômicas.