Fraudes no BRB e Master ocorreram sob os olhos do BC: esquema bilionário com carteiras fictícias e empresas de fachada
Polícia Federal investiga vendas de créditos inexistentes por R$ 12,2 bilhões; ex-presidente do BRB afastado após denúncias, mas BC vetou compra só em setembro
Fraudes bilionárias envolvendo o Banco de Brasília (BRB) e o Banco Master ocorreram mesmo sob o monitoramento direto do Banco Central (BC), revelam investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). O esquema incluía a venda de carteiras de crédito fictícias por R$ 12,2 bilhões ao BRB, sem desembolso real pelo Master, usando empresas de fachada para ocultar irregularidades. O BC, que acompanhava a tentativa de aquisição do Master pelo BRB, identificou problemas em março, mas vetou a transação apenas em setembro – após repasses de R$ 16,7 bilhões entre junho de 2024 e outubro de 2025. O presidente afastado do BRB, Paulo Henrique Costa, notificou o BC sobre divergências, mas o banco continuou operações, gerando questionamentos sobre a eficácia da supervisão regulatória.
A Operação Coffee Break, deflagrada em 2024, apura corrupção, lavagem de dinheiro e manipulação contábil. O Master, renomeado em 2021 do antigo Banco Máxima, acumulou R$ 50 bilhões em CDBs e Depósitos Interbancários (DIs) com juros altos, atraindo fundos como o RioPrevidência. Em julho de 2025, anunciou venda ao BRB por R$ 2 bilhões, mas o BC interveio após auditorias revelarem balanços falsos e cessão irregular de créditos.
“O BRB fez registros contábeis sem respaldo documental para manter o índice de Basileia, e a regularização não ocorreu”, detalha relatório da PF, destacando que o limite de exposição do BRB era de R$ 753 milhões, violado em operações bilionárias.
Mecanismo do golpe: carteiras falsas e empresas de fachada
O esquema funcionava com a emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) por terceiros, transferidas ao Master sem análise de risco, e revendidas ao BRB. Entre abril e maio de 2025, foram R$ 4,05 bilhões nessas operações. Uma empresa chave, a Tirreno Consultoria, controlada por André Felipe de Oliveira Seixas Maia (ex-funcionário do Master), teve capital elevado de R$ 100 para R$ 30 milhões dois dias antes de firmar contratos. Análises da PF em 30 CPFs da Tirreno não encontraram correspondência financeira, indicando lavagem.
O Master alegou aquisição de créditos da Tirreno, mas sem transferência de recursos. O BRB, em nota, afirma ter atuado com "conformidade e transparência", prestando informações ao BC e MPF sobre todas as operações. Costa identificou divergências no primeiro quadrimestre de 2025 e promoveu substituição de carteiras, mas a PF aponta continuidade das fraudes.
| Elemento do esquema | Detalhes | Valor envolvido |
|---|---|---|
| Venda de carteiras fictícias | Créditos inexistentes transferidos ao BRB sem desembolso | R$ 12,2 bilhões (junho/2024-outubro/2025) |
| CCBs via terceiros | Emissões sem análise de risco, revendidas | R$ 4,05 bilhões (abril-maio/2025) |
| Empresas de fachada | Tirreno: capital inflado em 2 dias para contratos | R$ 30 milhões |
| CDBs e DIs acumulados | Atraiu fundos com juros altos, sem ativos líquidos | R$ 50 bilhões total |
Linha do tempo: do renome ao veto do BC
- 2017: Daniel Vorcaro adquire Banco Máxima (sob investigação); depende de autorização do BC.
- 2021: Renomeado Master; expande com CDBs de juros altos e ativos de risco, prometendo proteção do FGC.
- 2024: Restrições a CDBs por riscos ao FGC; acumula R$ 50 bilhões em emissões. Criação da Tirreno em novembro.
- 2025: Vendas ao BRB somam R$ 16,7 bilhões; BC identifica irregularidades em 17 de março. Anúncio de compra por R$ 2 bilhões em 29 de março. Análise revela R$ 12 bilhões sem ativos; BC veta em setembro. Liquidação do Master em 18 de setembro; prisão de Vorcaro.
Críticas ao BC: supervisão falha ou ação tardia?
O BC monitorava a aquisição desde março, questionando cessões irregulares e balanços falsos, e denunciou ao MPF. No entanto, fraudes continuaram durante o processo, com o BRB registrando operações sem documentos para manter índices de capital. A decisão judicial nota que o banco prosseguiu "mesmo com ciência do monitoramento pelo BC". Leitores da Revista Oeste questionam conluio: "O atual presidente do BC, petista, fez vista grossa?". O BC rebateu, afirmando atuação proativa.
O caso expõe vulnerabilidades no sistema financeiro, com risco ao FGC e credores. A PF segue apurações, com possível extensão a mais bancos. Para o setor, reforça a necessidade de compliance rigoroso e verificação de ativos.
