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Publicado: 27 de novembro de 2025 às 08:53

Gilmar Mendes acha graça de

Ministro do STF chama Fórum de Lisboa de "case de sucesso" e ironiza apelido; ONG critica lobby judicial como ameaça ao interesse público, citando empresários como Vorcaro e Joesley Batista

O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou em entrevista à BBC que acha graça do apelido "Gilmarpalooza" dado ao Fórum Jurídico de Lisboa, evento anual promovido por sua faculdade de Direito que reúne a cúpula política brasileira. "A gente acha engraçado. A rigor, é um case de sucesso", disse Mendes, destacando que o fórum inspira ações globais, como as de Nayib Bukele em El Salvador. A declaração provocou resposta imediata da ONG Transparência Internacional, que criticou o tom leve do ministro, alegando que a sociedade brasileira não ri de "banquetes, viagens e outros luxos pagos a juízes por empresários como Daniel Vorcaro e Joesley Batista". A entidade vê o lobby judicial no evento como uma ameaça ao interesse público, comparável ou maior que o lobby parlamentar desregulamentado.

O Fórum de Lisboa, realizado na capital portuguesa, atrai membros de tribunais, ministros e parlamentares brasileiros, com patrocínios de empresas que têm ações milionárias na Justiça. Em julho, a Transparência Internacional já o havia chamado de "maior evento de lobby do planeta".

“O ministro decano do STF pode achar graça, mas certamente a sociedade brasileira não está rindo de banquetes, viagens e outros luxos pagos a juízes por empresários como Daniel Vorcaro e Joesley Batista. O lobby judicial hoje no Brasil é uma ameaça ao interesse público tão ou mais grave que o lobby parlamentar (até hoje desregulamentado)”, rebateu a ONG em nota oficial.

O que é o "Gilmarpalooza": de fórum jurídico a polêmica de lobby

O Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pela Faculdade de Direito de Gilmar Mendes, é um evento anual que debate temas como democracia, direitos humanos e políticas públicas, reunindo elites políticas e empresariais brasileiras. Patrocinado por grandes corporações, ele ganhou o apelido "Gilmarpalooza" nas redes sociais por sua frequência e o alto perfil dos participantes, incluindo juízes do STF, ministros de Estado e deputados. Críticos apontam que o formato facilita lobby informal, com empresas litigantes na Justiça patrocinando viagens e jantares.

Mendes, em entrevista à BBC, defendeu o evento como modelo de diálogo global, citando inspirações em ações de Bukele contra o crime organizado. No entanto, a Transparência Internacional argumenta que o lobby judicial compromete a imparcialidade, especialmente quando empresários envolvidos em escândalos – como Vorcaro (preso por fraudes no Banco Master) e Batista (delator da JBS na Lava Jato) – financiam luxos para juízes.

Principais empresários citados pela ONG:

 

EmpresárioEnvolvimentoConexão com o evento
Daniel VorcaroPresidente do Banco Master; preso por fraude bilionáriaPatrocínios e viagens a juízes
Joesley BatistaCoproprietário da J&F (JBS); delator da Lava JatoFinanciamento de banquetes e ações judiciais suspensas

Reações: defesa de Mendes e críticas à "ameaça ao interesse público"

Aliados de Mendes veem o evento como essencial para o debate jurídico internacional, com o ministro ironizando o apelido como "engraçado". A Transparência Internacional, porém, reforça que o lobby judicial é "grave", citando acordos controversos como a suspensão de multa de R$ 10,3 bilhões à JBS por Dias Toffoli (STF). A entidade cobra regulamentação urgente, similar à do lobby parlamentar.

Nas redes, o debate polarizou: bolsonaristas chamam de "festa do STF", enquanto progressistas defendem o diálogo. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apoia transparência em patrocínios, mas sem comentar o caso específico.

O episódio reflete tensões sobre imparcialidade judicial em um Brasil polarizado pré-2026. Mendes segue como figura central em debates globais, mas o "Gilmarpalooza" agora simboliza, para críticos, os riscos do lobby velado.